Folha de S. Paulo


Depois de noites empolgantes, festival da sanfona terá show de Fagner

O 4º Festival Internacional da Sanfona teve uma sexta-feira (15) agitada dentro e fora dos palcos em Juazeiro.

Dentro da Casa de Cultura João Gilberto, a noite trouxe três atrações bem diversas, mas cada uma teve grande recepção do público, que mais uma vez lotou o teatro, deixando muita gente acompanhando as apresentações por um telão na parte externa.

A programação começou com dose extra de emoção. Oswaldinho, um dos gênios da sanfona no Brasil, foi ao palco e teve alguma dificuldade para colocar o pesado instrumento nos ombros e fez o show sentado. Mostrou-se enfraquecido por problemas de saúde, mas, quando a música rolou, a plateia foi arrebatada.

Oswaldinho toca com leveza, fluidez, sua sanfona é melódica envolvente. Num repertório de clássicos, exibiu toda a técnica já famosa e arrancou seguidas gargalhadas da plateia antes de tocar sua recente e intrincada versão blues para "Asa Branca".

"Tenho trauma de 'Asa Branca'"' disse, para depois contar que, como menino prodígio na sanfona, era obrigado a tocar o instrumento para todas as visitas que seus pais recebiam em casa. E não eram poucas. Segundo ele, todo mundo queria ouvir essa música, e ele foi pegando ódio de tocá-la. Depois de brincar bastante com essa história, anunciou ao público: "Agora vou tocar a porra da 'Asa Branca'!".

No segundo show da noite, Mestrinho também mostrou bom humor e uma habilidade impressionante. Sem banda, a solitária e alta figura no palco disparou uma performance virtuosa e muitos discursos carinhosos e engraçados dedicados a Dominguinhos, seu grande mentor. Mestrinho é o grande nome da nova geração de sanfoneiros.

Para fechar os epetáculos, uma dupla argentina. Gabriel Merlino deu uma mostra vigorosa do uso do bandoneón no tango, dividindo boa parte do show com a bonita e afinada cantora Vanina Tagini. A emoção derramada da dupla quebrou qualquer distància entre os dois apíses.

FAGNER

Ivan Cruz Jacaré/Divulgação
Fagner durante ensaio em Petrolina (PE), nesta sexta (15)
Fagner durante ensaio em Petrolina (PE), nesta sexta (15)

Fora do palco, a agitação ficou por conta da presença de Raimundo Fagner. Atração principal do show que fecha o festival na noite de sábado (16), num palco ao ar livre às margens do rio São Francsco, ele foi assediado pelos fãs ao circular pela cidade. À tarde, ensaiou com o sanfoneiro Targino Gondim, diretor do festival, e músicos locais.

Ele falou à Folha sobre sua ligação com a sanfona, desde a infância, quando ouvia Luiz Gonzaga. "No meu primeiro disco, a primeira sanfona tocada ali foi do Dominguinhos, e aí ele já virou meu músico. Essa aproximação com o instrumento culminou com eu gravar um disco com Luiz Gonzaga."

Fagner lembrou que fez discos só gravando músicas que faziam sucesso no Nordeste, mas não chegavam ao resto do país. "Era um desafio para mim. Por que aqui é um universo onde acontece tanta coisa que não vai para lá? Queria pegar essas músicas e levar ao Sudeste, enfim, levar a mercados que não o público nordestino."

Ele contou que sempre teve sanfoneiro em suas bandas, só nos últimos dois anos é que deixou de ter. Nos shows, o repertório nordestino entra mais pop. "Mas trabalhei com gerações, Dominguinhos, Chiquinho do Acordeom, Severo. Eram poucos em São Paulo, a gente tinha dificuldades para gravar sanfona. Sivuca foi um grande colaborador. Cheguei a gravar uma música só com sanfonas, de Sivuca e Oswaldinho. Eles não entenderam nada. Achavam estranho eu não cantar na faixa e colocá-la no meu disco. 'Mas a voz entra onde?' Não vai entrar, é só vocés, eu repetia. Tem quase sete minutos e agora deve ser aproveitada em um filme."

Sobre Juazeiro, disse que é uma cidade que sempre o recebeu bem, "com um astral lá em cima".

O jornalista THALES DE MENEZES viajou a convite do festival


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