Foi a masturbação que levou o músico norte-americano Rufus Wainwright a se interessar desde cedo pela obra de William Shakespeare.
"Quando eu era pré-adolescente, minha mãe percebeu que eu estava passando tempo demais no meu quarto", explica Wainwright aos risos. "Ela me chamou e disse, 'Rufus, sabia que Shakespeare escreveu sobre o que você está fazendo consigo mesmo?'".
A referência era ao soneto 129 do bardo, "The'Expense of Spirit in a Waste of Shame".
Em 2016, a morte de Shakespeare completa 400 anos. Em meio aos milhares de tributos está o novo disco do cantor, "Take All My Loves".
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| Arte da capa de '"Take All My Loves: 9 Shakespeare Sonnets'", de Rufus Wainwright |
O álbum traz nove dos sonetos do bardo inglês musicados por Wainwright e tem diversas participações especiais.
O soneto 129 está presente, tanto em versão musical quanto declamada por ninguém menos que William Shatner, o eterno Capitão Kirk de "Jornada nas Estrelas".
O disco foi gravado entre Los Angeles e Londres. De Hollywood, ele traz nomes como Carrie Fisher, a princesa Leia de "Guerra nas Estrelas".
De Londres, vêm atores consagrados nos palcos, como Peter Eyre e Helena Bonham Carter, além de Florence Welch, vocalista da banda Florence + the Machine.
Segundo o músico, ela era alguém que ele desejava ter no disco desde o começo. "Florence tem ares shakespearianos. Ela poderia ser Titânia, a Rainha das Fadas", diz, em referência à personagem de "Sonho de Uma Noite de Verão".
COLAGEM DE ESTILOS
Florence canta uma das faixas mais pops do álbum, "When in Disgrace with Fortune and Men's Eyes". "Para mim, misturar pop com música clássica sempre foi natural", diz ele, que é famoso por compor trilhas, e recentemente escreveu sua primeira ópera.
"Mas eu entendo que isso incomode algumas pessoas."
"Take All My Loves" traz essa colagem de diferentes estilos, que de certa forma traduz a carreira de Wainwright, dividida entre o popular e o erudito. O disco muda por completo ao passar da canção com Florence a uma faixa interpretada pela soprano austríaca Anna Prohaska. Já a voz de Wainwright some durante um longo período.
ATESTADO
Mas, entre as músicas interpretadas pelo próprio, está "A Woman's Face", baseada no soneto 20, seu preferido.
"Esse poema fala sobre um homem mais velho admirando um jovem", conta. Há tempos, estudiosos discutem se o soneto é um atestado da suposta homossexualidade de Shakespeare.
Wainwright, que é gay, diz que "A Woman's Face" reflete uma sensação que agora lhe é familiar. "Eu já fui o jovem do soneto. Agora estou com 42, então conheço os dois lados da moeda."
A maioria das canções de "Take All My Loves" já havia sido composta anos atrás. A obra traz uma coleção de sonetos que Wainwright musicou para o teatro e para apresentações com a Orquestra Sinfônica de San Francisco.
Ele diz que a seleção dos poemas que entrariam no disco foi aleatória, mas que inconscientemente houve um padrão. Foi Eyre quem fez a observação: enquanto o soneto 43, que abre o disco, é sobre sonhar, o soneto 87 fecha a obra falando sobre acordar.
"Pode ser que o álbum se passe durante um sonho. Me parece um bom lugar para encenar Shakespeare."