Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Tereza Rachel levou o sumo do teatro dos 1960 para as novelas

Ela não matou Salomão Hayalla em "O Astro" (1977), mas era Clô, a amante do assassino (Edwin Luisi) de seu marido. Posou nua para a revista Status aos 42 anos quando a média eram mocinhas de 20 e poucos.

E não economizou no nu aos 50 anos: interpretou uma prostituta e tirou a roupa do rei Pelé, com quem fez cenas de sexo no filme "Pedro Mico".

Mas certamente você há de se lembrar somente de sua Valentine, a rainha deliciosamente tirana e cruel de "Que Rei Sou Eu". É pouco, mas a redenção já vem.

Teresinha Malka Brandwain Taiba de La Sierra, a Tereza Rachel, tinha este nome de princesa mas era carioca de Nilópolis, filha de pais judeus poloneses. Sua realeza não pode se restringir a sua Valentine. Ela foi bem mais.

Atriz forjada no teatro dos anos 1950 e 60, construía seus personagens com precisão. Foi uma das melhores traduções da transição entre teatro dos anos 1950 e 60 para a televisão dos anos 1970, 80 e 90. Nascera para aquele negócio chamado televisão.

Mas é no teatro, claro, que fez o nome. Atuou em mais de 30 peças. Nos anos seguintes, emplacou sucessos e prêmios em montagens fundamentais para o teatro brasileiro, como "Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues (1961), "Otto Lara Rezende ou Bonitinha, mas Ordinária", de Nelson Rodrigues (1962), "Liberdade, Liberdade", de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, com o Grupo Opinião.

Mas foi em 1965 que liderou no palco o elenco da lendária encenação de "O Berço do Herói", de Dias Gomes, dirigida por Antônio Abujamra e interrompida pela censura antes da estreia. O mesmo Abu que depois seria seu parceiro em "Que Rei Sou Eu", como Ravengar.

A partir de 1970, começou a sua carreira na TV: emplacou 20 novelas, de "O Rebu" a "Babilônia" (2015). Foi a megera que todos amamos odiar.

Sim, pode chamá-la megera. Neurótica. Temperamental. Mas é bobagem da grossa. Tereza Rachel sempre incomodou em suas interpretações. Era uma atriz de tragédias. Mas imprimia doçura quando o papel pedia. E também humor e zombaria, como no filme "Amante Muito Louca" (1973), de Denoy de Oliveira.

POLÍTICA

Uma curiosidade para estes tempos de destempero nas discussões políticas: a vida de Tereza Rachel na TV foi interrompida em 1990, quando apoiou politicamente o hoje senador Fernando Collor à Presidência da República e viu seu marido, o cineasta Ipojuca Pontes, assumir a secretaria Nacional de Cultura, terra arrasada do cinema nacional.

Nunca mais foi a mesma. Estigmatizada por seus colegas da classe artística, por conta de suas opiniões, recolheu-se e só retornou com a posse de Fernando Henrique em 1995, em "A Próxima Vítima".


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