Folha de S. Paulo


Votantes reagem às mudanças na Academia após polêmica no Oscar

As mudanças anunciadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para atenuar a falta de diversidade entre seus membros dividiram opiniões, informou a revista "The Hollywood Reporter".

Com as novas regras, membros que não trabalharam ao longo de três décadas após sua inclusão na Academia perdem o direito de votar no Oscar, antes vitalício e incondicional —antigos vencedores e indicados à premiação não estão sujeitos à alteração.

As medidas foram aprovadas de forma unânime pelos 51 membros do conselho da instituição após ela ser alvo de críticas pela exclusão de atores e diretores negros entre os indicados ao Oscar pelo segundo ano consecutivo. Nos últimos dez anos, somente 24 dos 200 atores nomeados eram negros, e o número é ainda menor entre latinos e asiáticos.

A diretora Ava DuVernay, esnobada por seu trabalho em "Selma: Uma Luta pela Igualdade", manifestou-se a favor da decisão.

"É um bom passo em uma jornada longa e complicada para artistas negros e mulheres", declarou. "Artistas marginalizados pedem mudança na Academia há décadas. Pedidos feitos no palco, recebidos por orelhas surdas, mentes fechadas."

"Todos nós temos que nos acalmar. Ninguém na Academia deve ser tachado de racista, mas obviamente há preconceitos criados pela demografia dos membros", afirmou Rod Lurie, diretor e roteirista de "A Conspiração" (2000), que rendeu indicações para Joan Allen (atriz) e Jeff Bridges (ator coadjuvante).

Outros membros, porém, sentiram-se usados injustamente como bode expiatório. "Como um membro que se distanciou da indústria, sinto-me vitimizado. Estou na fase da minha vida em que eu ensino outras pessoas, então, para eles, não devo ser tão relevante, mesmo trabalhando com a nova geração, quanto as pessoas que estão nos créditos atuais", disse o diretor Sam Weisman, 68, cujo último filme, "Dickie Roberts - O Pestinha Cresceu" é de 2003.

Em editorial do jornal "Los Angeles Times", o compositor William Goldstein criticou a Academia por "ceder ao politicamente correto", defendendo programas de supervisão como uma melhor solução.

"Os votantes dos quais eles se livrarão já viram mais filmes e têm mais contexto para julgar as produções do que os novatos", afirmou à Associated Press.

Zô Guimarães/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 26-11-2013, 18H: Spike Lee no Hotel Fasano. (Foto: Zo Guimaraes/Folhapress/ ILUSTRADA) (zo com acento circunflexo no o)
O cineasta Spike Lee, um dos principais críticos da falta de diversidade na Academia

Um roteirista membro da Academia, que fez sucesso nos anos 1970 e permaneceu anônimo, disse ser um dos afetados pela mudança. "Não me incomodo, mas votei em Denzel Washington, Halle Berry, Samuel L. Jackson, e outros negros. Essa medida levanta a questão: a filiação é baseada em mérito ou em sintonia com o que é atualmente popular?"

A agente Leigh Castle, membro honorário, defende que as escolhas da premiação não tem "nada a ver" com raça. "Eu teria escolhido Will Smith por 'Um Homem entre Gigantes' —acho que ele fez um trabalho maravilhoso. Mas o motivo pelo qual ele foi esnobado é o mesmo por trás de 'Truth': o dinheiro manda", argumentou, referindo-se aos milhões gastos pelos estúdios em campanhas para o Oscar.

Um membro anônimo do setor de relações públicas da Academia disse à "Hollywood Reporter" que a reação foi equivocada, já que todos os membros pagariam por um erro da divisão de atores. "São eles que escolhem os indicados", disse.

Para outro profissional anônimo do setor de relações públicas, a meta da presidente Cheryl Boone Isaacs de eliminar membros inativos para atrair pessoal mais jovem não faz sentido. "São esses membros jovens, na ativa, que não estão fazendo filmes em que há diversidade. O que faz as pessoas pensarem que tê-los mudará alguma coisa?", criticou.

A cerimônia de entrega do Oscar acontece em 28 de fevereiro. A apresentação fica a cargo do comediante Chris Rock. Ryan Gosling, Lady Gaga, Benicio del Toro, Kevin Hart, Charlize Theron e Whoopi Goldberg entregam prêmios.


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