Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Thriller político peca em fraco retrato da realidade brasileira

Trailer de "O Fim e os Meios"

O cinema de Murilo Salles sofre, há muito tempo, com a desenvoltura do artesanato do diretor. Na imagem nada está errado. Ao mesmo tempo, nada está certo: tudo responde a uma ordem da representação clássica que se dirá, no mínimo, ultrapassada.

Nessa tentativa de imitação da vida temos uma jornalista, Cris, que se liga ao publicitário Paulo. Este acaba de ser contratado como assessor de marketing de um velho senador, cuja campanha pela reeleição caberá a ele planejar.

Aceite-se a premissa: a jornalista representa a verdade; o publicitário, a mentira ou, ao menos, a enganação. Na vida dos dois há ainda Hugo, o assessor direto do senador.

Divulgação
Créditos: Divulgação Legenda: Cena do filme
Pedro Brício no longa de Murilo Salles

Ah, sim, o casal se muda para Brasília, e esse será um problema tão grave quanto o maçante da representação à maneira dos anos 1940. Sim, porque se é de Brasília que se trata, logo sabemos as decorrências: corrupção, rasteiras, armações de todos os tipos.

Isso vale para a política, para marketing e também para o jornalismo. Como sabemos que, no centro da trama, está o casal formado por uma repórter e um marqueteiro, não é impossível prever que o caldo entornará –eventualmente para mais de um lado.

Pode-se aceitar também que Paulo se veja como idealista ao mesmo tempo em que aceita o tal trabalho porque vai ganhar uma fortuna.

Pode-se aceitar até a intriga sexual, que, a rigor, não leva a muitas consequências. Mas um problema incontornável ronda o roteiro: a realidade.

Tudo o que vemos no filme –inclusive o hábito de olhar Brasília como um foco do mal, como se fora dali tudo corresse limpamente– parece água de rosas frente ao que hoje se descobre: Petrobras, empreiteiras, banqueiros, dinheiro na Suíça e tudo mais.

Um filme que busca ser imitação da vida real não pode ficar aquém da vida real. E não é possível condenar o autor do filme (Salles também assina o roteiro) por isso: não é sua imaginação que falha.

A realidade é que supera o que qualquer um pudesse imaginar sobre o assunto até mais ou menos um ano atrás. Ao mesmo tempo, esse problema arrasta muito do interesse que o filme poderia ter, ao menos para o espectador que aceita as convenções do realismo clássico.

O FIM E OS MEIOS
DIREÇÃO Murilo Salles
ELENCO Pedro Brício, Cintia Rosa e Marco Ricca
PRODUÇÃO Brasil, 2013, 16 anos
QUANDO em cartaz


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