Para fazer uma maloca, os ianomâmis precisam de palha de ubim e madeira, que servem de telhado e sustentação para as habitações indígenas.
Essas casas coletivas acabam de ganhar um parente: o pavilhão dedicado a Claudia Andujar, fotógrafa que dedicou a vida aos ianomâmis, inaugurado na quinta (26), no Instituto Inhotim.
A galeria, inspirada na arquitetura das malocas e toda construída com tijolinhos, faz um mergulho em mais de 400 fotos realizadas entre 1971 e 2010 pela suíça radicada no Brasil. Com 1.600 m² e projeto do escritório mineiro Arquitetos Associados, é a segunda maior do complexo de museus em Brumadinho (MG), perdendo apenas para a de Tunga, com 2.000 m².
Primeiro pavilhão do instituto a ser construído em parceria com uma empresa, o espaço teve seu custo –cerca de R$ 12 milhões– dividido entre banco Santander, que financiou 25% do valor, Inhotim, responsável por 70% do montante, e doadores, que custearam os 5% restantes.
Em registros coloridos que exibem a flora amazônica como se fossem animais, a natureza é a protagonista da primeira sala. Sem romantismo, Andujar explora a beleza de plantas e rios de maneira visceral e, aos poucos, vai se aproximando dos indígenas.
"Ela enxerga bichos saindo dos lugares, tem essa coisa mítica dos índios, de que a natureza é muito ligada à vida", explica Cecília Rocha, 34, curadora-assistente do Inhotim.
PRETO E BRANCO
Em seguida, a cor evapora para dar lugar a uma grande sala com mais de 150 imagens em preto e branco. Cenas de transe durante rituais xamânicos e outros registros mais sombrios, que enquadram partes de corpos dos índios de forma lírica, apresentam uma abordagem com interesses etnográficos após seguidas viagens às aldeias.
William Gomes/Divulgação | ||
Fachada do pavilhão da fotógrafa Claudia Andujar no Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG) |
Na terça (24), de mãos dadas com um dos ianomâmis que visitava a galeria pela primeira vez, a fotógrafa circulava entre os registros da série "Marcados", na qual identificou índios para fichas médicas. O trabalho está na parte final do pavilhão, ao lado de "Toototobi", ensaio de 2010.
Esta sala explicita o lado ativista de Andujar, principalmente de 1978 até 1992, quando da demarcação das terras ianomâmi, questão pela qual lutou durante todo o período.
"Se antes ela fotografava para imergir na cultura", observa Rodrigo Moura, diretor artístico do Inhotim, "depois ela passa a formar um arquivo que mostrasse o que estava acontecendo com os índios."
Além da mostra, há ainda a exibição do documentário "A Estrangeira", dirigido por Moura a partir de entrevistas com Andujar, que se comoveu com a inauguração do pavilhão após cinco anos de trabalho.
"Tenho 84 anos, é agora ou nunca", diz ela. "Inhotim é importante porque é permanente. Todo o meu intuito era dar aos ianomâmis o que era possível para sobreviverem. A história deles é a minha vida."