Folha de S. Paulo


Bombino apresenta em SP a sua mistura de rock e blues tuaregue

O guitarrista Omara Moctar, mais conhecido pelo nome artístico de Bombino, faz apresentação única em São Paulo neste domingo (15). É uma oportunidade rara para conhecer os sons hipnóticos e lindos dos guitarristas tuaregues do norte do Saara.

Nascido há 35 anos em um acampamento no deserto perto de Agadèz, no Níger, oeste da África, Bombino cresceu ouvindo os músicos que passavam por lá.

Os tuaregues –povo nômade de Níger, Mali, Burkina Faso e outros países– têm uma longa tradição de canções sobre a vida no deserto, uma espécie de blues local, marcado por riffs de guitarra que se repetem como mantras e uma percussão acelerada, criando uma base sobre a qual músicos improvisam solos.

Bombino –o apelido foi dado por um parente e veio de "bambino" ("criança" em italiano)– tem 17 irmãos e passou a infância entre Agadèz, a maior cidade da região central do Níger, com cerca de 120 mil habitantes, e uma pequena vila no deserto.

Na cidade, costumava ver os músicos locais e bandas tuaregues como Tinariwen e Terakaft, do Mali, que faziam uma mistura de sons africanos com blues e rock. Também passou a se interessar pelo pop rock europeu e americano. Ouvia todos os discos de Jimi Hendrix e ficou obcecado pelo estilo límpido do dedilhado de Mark Knopfler, guitarrista da banda britânica Dire Straits.

Bombino diz que a solidão de seu trabalho como pastor de cabras o permitiu tempo para dedicar-se à guitarra.

Aos 17, já era músico profissional. Em 2007, depois de uma rebelião em que os tuaregues exigiam do governo de Níger melhores condições de vida e uma divisão dos lucros da exploração de urânio, grande fonte de riqueza do país, o governo local proibiu o uso de guitarras elétricas entre eles. Bombino fugiu para o vizinho Burkina Faso. Dois anos depois, lançou seu primeiro disco.

Foi seu terceiro LP, "Agadez", lançado em 2011, que chamou a atenção de Dan Auerbach, guitarrista e cantor do grupo americano Black Keys. Auerbach ficou tão impressionado com vídeos de Bombino no YouTube que o convidou para gravar em seu estúdio em Nashville, nos Estados Unidos.

O resultado foi "Nomad" (2013), lançado nos EUA e Europa e que tornou Bombino conhecido mundialmente.

"Ele toca as coisas mais complexas e difíceis com uma facilidade impressionante", disse Auerbach ao jornal "Los Angeles Times". "Bombino gravava três vezes cada trecho das músicas, nota por nota, e tudo no primeiro take. O resultado é grandioso."

E é mesmo. O som de Bombino une aos blues tuaregues uma pegada de rock, resultando numa música empolgante, densa e festiva. É impossível ouvir cinco minutos e não se emocionar.

Tive a sorte de ver Bombino em um festival no Texas, em 2014, e a reação da plateia foi comovente. Poucos ali conheciam o guitarrista, e as expressões de espanto e alegria pareciam dizer: "De onde surgiu esse cara?".

BOMBINO
QUANDO dom. (15), às 18h
ONDE Sesc Pinheiros, r. Pais Leme, 195, (11) 3095-9400
QUANTO de R$ 9 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 10 anos

ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor de "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)


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