Folha de S. Paulo


'Queria que o público me esquecesse', diz Johnny Depp sobre novo filme

Johnny Depp virou um dos astros mais bem pagos do planeta após o sucesso de "Piratas do Caribe" (2003), mas há ao menos oito anos não assumia um papel que gerasse burburinho sobre indicações para prêmios importantes.

Isso mudou com "Aliança do Crime", em que incorpora Whitey Bulger, um mafioso real que controlou boa parte de Boston durante os anos 1970 com a ajuda do FBI.

"Queria Johnny Depp para o papel exatamente porque não era uma escolha óbvia", conta à Folha o diretor Scott Cooper, cujo primeiro filme, "Coração Louco" (2009), rendeu dois Oscar, um de melhor ator para Jeff Bridges e outro de canção. "Johnny é um tesouro nacional, provavelmente uma das três pessoas mais famosas e queridas do mundo. Mas queria ver um lado perigoso que nunca havia visto na carreira dele."

Depp também procurava sair de seus personagens heroicos ou esquisitos-além-da-conta. Envolveu-se na adaptação do livro "Black Mass: Whitey Bulger, the FBI, and a Devil's Deal", dos jornalistas Dick Lehr e Gerard O'Neill, que descortinaram a aliança entre Bulger e o FBI para o "Boston Globe", antes mesmo de Cooper ser contratado.

"Jack Sparrow ou Willy Wonka não exigem nada além de compromisso com o autor e o propósito da trama. Já minha responsabilidade [em 'Aliança'] é interpretar com o mais alto nível de verdade", explicou Depp durante o festival do American Film Institute, em Los Angeles. "Meu objetivo era fazer o público esquecer de mim nos primeiros cinco minutos de filme."

Isso acontece em "Aliança do Crime", que estreou na quinta (12) no Brasil depois de passar pelos Festivais de Veneza e Toronto e de obter uma bilheteria nos EUA já superior ao orçamento de US$ 50 milhões (R$ 186,6 mi).

Depp está irreconhecível –o que não é novidade para quem já fez "Edward Mãos de Tesoura" (1990)–, mas também ameaçador, lembrando Ray Liotta, de "Os Bons Companheiros" (1990).

"Havia um senhor acompanhando as filmagens e eu não o conhecia. Me falaram que ele foi o advogado de Bulger por 30 anos. Notei que ele estava balançando a cabeça negativamente", conta Cooper. "Perguntei o que estávamos fazendo de errado e ele falou que estava arrepiado com a maneira como Johnny falava e se movimentava como Whitey."

Durante as filmagens, no sul de Boston, região que a quadrilha dominava até o meio dos anos 1990 com o aval de John Connolly (Joel Edgerton), agente do FBI, Depp andava com o visual do gângster –lentes de contato azuis e cabelos brancos para trás– até fora do set.

"Sair do trailer personificando Bulger era muito satisfatório. Muita gente na área o conheceu. Eu andava e as pessoas franziam a testa", lembrou o ator. "Só fiquei preocupado em levar um tiro."

Whitey Bulger tem 86 anos e cumpre pena de prisão perpétua na Flórida pelo assassinato de 19 pessoas. Ele passou 16 anos foragido e foi capturado em 2011, em Santa Monica, na grande Los Angeles.

Cooper reescreveu o roteiro e deixou de lado os anos de Bulger em fuga. "Não havia nada dramático nesta parte da vida dele. Ele ficou limpo para não ser achado pela polícia e frequentava lojas de artigos de 99 centavos", diz.

"Queria contar a ascensão e queda de Bulger. E mostrar como um homem terno com o filho, engraçado com a mãe e carinhoso com o irmão pode ser cruel e matar a namorada do melhor amigo com as próprias mãos."


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