Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Feminismo de Simone de Beauvoir conduz filme original sobre velhice

O corpo já não responde à memória. A metamorfose da velhice é inquietante. Ficar velho é perder poder. Há uma conspiração de silêncio ao redor disso tudo.

É em torno dessas ideias que Lúcia Murat cria "Em Três Atos", filme que mistura documentário e ficção. O fio condutor são textos da feminista Simone de Beauvoir (1908-1986), o que já garante profundidade e espírito crítico.

Na tela, mulheres da dramaturgia e da dança. Na ficção, a experiente Nathalia Timberg faz dupla com a competente Andréa Beltrão. Dançando, as bailarinas Angel Vianna e Maria Alice Poppe expõem limites e superações.

Da geração que pegou em armas contra a ditadura, Murat é conhecida por obras que tratam de política. Dirigiu, entre outros, "A Memória que me Contam" (2013), "Quase Dois Irmãos" (2004) e "Que Bom te Ver Viva" (1989).

Divulgação
Cena do filme
Angel Vianna e Alice Poppe em "Em Três Atos"

ENVELHECIMENTO

Nesse novo filme, a diretora percorre um caminho diferente. Busca refletir sobre o envelhecimento experimentando uma estética minimalista e reflexiva, entrecortando linguagens.

Bailarina na adolescência, Murat encara agora, quando já passou dos 60 anos, o debate do significado de ficar velho na sociedade que reverencia a juventude. O tema, muito pasteurizado e glamorizado no cotidiano, encontra um enfoque original.

No roteiro, uma mulher, aos 50 anos, acompanha os últimos dias de vida de sua mãe no hospital e escreve impressões. Enxerga a mãe sem defesas, manipulada por mãos profissionais, sendo um peso para os outros. Será esse também o seu destino?

Paralelamente, a mulher, aos 80 anos, faz seu balanço pessoal. Confronta a perda de vitalidade e se revolta com imperfeições, paixões que não consegue mais vivenciar.

Os dois momentos são baseados nos escritos de Beauvoir: "A Velhice" (1970) e "Uma Morte Muito Suave" (1964). Dançando a coreografia de João Saldanha ("Qualquer Coisa a Gente Muda"), Angel Vianna, aos 85 anos, é o destaque na tela. Sem esconder rugas nem flacidez, ela esbanja personalidade e vigor. Uma brisa no embate com a inexorável finitude.

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QUANDO às 21h50, no Espaço Itaú Augusta (r. Augusta, 1.470, tel. 11-3288-6780)

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EM TRÊS ATOS
DIREÇÃO Lúcia Murat
PRODUÇÃO Brasil, 2015
MOSTRA sex. (30), às 21h45 (Reserva Cultural); dom. (1º/11), às 15h30 (Cine Caixa Belas Artes); seg. (2/11), às 16 (Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca)


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