Folha de S. Paulo


Em Frankfurt, editora Hachette promete chegar ao Brasil em 5 anos

O grupo editorial francês Hachette Livre, um dos cinco maiores do mundo, deverá entrar no Brasil em breve. A informação é do chairman e diretor-executivo da empresa, Arnaud Nourry, que falou a editores reunidos no Business Club na quarta (14), no primeiro dia da Feira do Livro de Frankfurt.

Apesar da crise, afirmou ele, o Brasil continua a ser um dos mercados mais atraentes para livros.

Procurado depois pela Folha, Nourry desconversou, dizendo se tratar apenas de "uma visão". Mas, durante a palestra, ele mencionou que o projeto seria realizado "dentro de quatro ou cinco anos", na forma de uma joint-venture.

A afirmação surge em um momento de baixa da participação do Brasil na Feira. A edição deste ano do evento "The Markets - Global Publishing Summits", que ocorreu na terça-feira (13) e costuma apontar mercados promissores, elegeu desta vez o México na América Latina como um bom local para se investir.

Daniel Roland/AFP
A woman looks at books on display at the Book Fair in Frankfurt am Main, western Germany on October 14, 2015. AFP PHOTO / DANIEL ROLAND ORG XMIT: 14-10-15-ROL015
Estande na Feira do Livro em Frankfurt, aberta ontem (14)

A Hachette Livre é a maior editora da França e também uma das líderes na Grã-Bretanha, Espanha e nos Estados Unidos. Na América Latina, segundo Nourry, só no México a empresa tem uma forte presença. Ele mencionou o "caos" nos demais países, que prejudicaria investimentos na região.

Apesar da participação mais tímida do Brasil na Feira ­â€“nesta edição, 36 editoras brasileiras vieram para Frankfurt, cinco a menos do que no ano passado –, há outros otimistas.

Para Luiz Álvaro Salles Aguiar de Menezes, gerente da Câmara Brasileira do Livro, a alta do dólar deve favorecer a exportação de títulos brasileiros –e, com a alta dos custos para se ter obras estrangeiras, as editores brasileiras deverão investir mais em autores nacionais.

"O livro sempre encontra seu caminho", disse ele.

A quarta-feira em Frankfurt também foi dia de uma reunião a portas fechadas – com a participação da brasileira Noemi Jaffe.

Ela e 38 autores se reúnem para discutir questões do cenário internacional, no programa "Frankfurt Undercover", criado no ano passado. Este ano, o tema do encontro é o extremismo.

Longe da imprensa e do público, os autores ainda se reunirão hoje e amanhã. Ao fim, eles vão publicar suas propostas em um documento, a ser divulgado para os políticos e o público de seus países. Para Noemi, há uma relação entre extremismo e a intolerância. "A literatura abre as portas para a tolerância de uma forma muito eficaz", afirmou.

Este é um ano em que o extremismo está na pauta de Frankfurt, com o boicote que o Irã promove contra a Feira, por conta da participação do escritor Salman Rushdie para a conferência de abertura. Em 1989, a publicação de "Versos satânicos" levou o aiatolá Khomeini, líder do país, a publicar um decreto religioso condenando o escritor à morte.

Ontem o estande do país estava vazio e interditado. Em sua entrada, os únicos exemplares expostos eram de uma biografia de Maomé.

As centenas de especiarias expostas no pavilhão da Indonésia, convidado de honra de Frankfurt este ano, empolgaram os visitantes –que se abaixavam para cheirar os inúmeros potes coloridos.

A imprensa alemã, porém, tem lembrado fatos sombrios do passado do país – como o massacre comunista de 1965 e 1966, durante a ditadura de Suharto. E também as execuções de indonésios e estrangeiros, entre eles dois brasileiros, por tráfico de drogas.


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