Folha de S. Paulo


Shakespeare tem montagens até em cantonês e vira febre pelo mundo

O teatro britânico vive momento de baixa. Salas antes influentes como National e Royal Court patinam com os mesmos autores e diretores de décadas. E o que na verdade embala o teatro e reúne multidões é Shakespeare, cujos 400 anos de morte serão celebrados em abril de 2016.

A efeméride ajuda a explicar o número de textos seus em cartaz, também no Brasil, mas é só parte da história. A disseminação mundial se acelerou, tendo como foco o Shakespeare's Globe, que reproduz o teatro onde sua companhia se apresentava.

É onde se evidencia mais a "globalização", no trocadilho repetido por todo lado, inclusive em novo livro sobre o fenômeno, "Worlds Elsewhere: Journeys Around Shakespeare's Globe" (Bodley Head). Nele, Andrew Dickson, do "Guardian", percorre o "impacto global", do faroeste americano à China atual, onde Shakespeare vira "Shashibiya".

É a China que ocupa o Globe neste meio de ano. A Folha acompanhou uma sessão lotada de "Ricardo 3º" em mandarim pelo Teatro Nacional, de Pequim. E agora entrou em cartaz "Macbeth" em cantonês, pelo grupo Tang Shu-wing, de Hong Kong.

Enquanto isso, o "Hamlet" montado pelo próprio Globe, que esteve em São Paulo, Rio e Belo Horizonte em novembro e visita "todos os países do mundo" até abril de 2016, acaba de chegar ao 124º, o Japão. Registre-se que foi o "Romeu e Julieta" de Gabriel Villela que ajudou a firmar a estratégia do Globe, tendo se apresentado lá em 2000 e 2012.

Mas a "globalização" vai além do Globe. Celebridades de Hollywood têm tomado o palco londrino, em movimento creditado ao "Ricardo 3º" de Kevin Spacey (2011). Papel e interpretação foram as bases para o Frank Underwood de "House of Cards", em que o vilão seduz espectadores com a mesma ironia direta.

Agora é a vez de Benedict Cumberbatch, da série "Sherlock" e do filme "O Jogo da Imitação". Ele estreia como Hamlet na terça (25), mas as duas semanas de ensaios abertos já foram de histeria, não só pela busca por ingressos esgotados, mas com jornais como o "Times" quebrando a regra de esperar a estreia para publicar crítica –aliás, bastante negativa.

Em mais um passo na globalização, a produção decidiu transmitir ao vivo uma apresentação em outubro, para cinemas mundo afora. Nenhum do Brasil, contudo. O mais perto é no Chile.


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