Folha de S. Paulo


Peça sobre velhice é show de horror com piadas estilo 'A Praça É Nossa'

Se o sujeito chegou aos 70 ou aos 80 anos sem se dar conta de que, para além da inevitável decadência física, há coisas ótimas na velhice, talvez ele tenha a chance de descobrir algo nas quase duas horas do musical "BarbarIdade", com Osmar Prado, Edwin Luisi e Marcos Oliveira em papéis centrais. Mas eu duvido.

A premissa de que envelhecer é bom descamba durante a peça. Ser criança pode ser bom, ser jovem pode ser interessante, ter 43 anos e meio pode ser incrível.

Envelhecer pode ser legal também, só que um espetáculo que propõe defender essa ideia com lorotas disfarçadas por trás do deboche parece partir justamente de ideia antagônica, de que envelhecer é uma grande desgraça.

Na peça, o trio interpreta um grupo de autores (inspirados em Zuenir Ventura, Luis Fernando Verissimo e Ziraldo) que precisa escrever um musical sobre a velhice.

Caio Galucci/Divulgação
Os atores Osmar Prado, Stella Maria Rodrigues, Edwin Luisi e Marcos Oliveira, do musical 'BarbarIdade'
Os atores Osmar Prado, Stella Maria Rodrigues, Edwin Luisi e Marcos Oliveira, do musical 'BarbarIdade'

Eles dizem não conhecer o assunto. Matusalém, personagem bíblico, aparece em cena e, num passe de mágica, vai fazer com que mudem duas vezes de idade. Primeiro, os protagonistas ficam mais velhos. Depois, ficam mais jovens. Essa viagem lhes permitiria experimentar a passagem do tempo.

O escudo da paródia poderia até funcionar nesse caso se a intenção de zombar da autoajuda fosse levada um pouco mais a sério, o que de fato acontece bem no início do espetáculo. Mas não.

HIPOCRISIA

No texto de Rodrigo Nogueira com direção de José Lavigne, a paródia vai dando lugar à hipocrisia. A plateia embarca. Casa cheia no sábado, poucos deixaram a sessão no intervalo. Muitos aplausos.

Não bastasse o equívoco da premissa, "BarbarIdade" é um show de horrores do início ao fim, com coreografias desengonçadas, figurinos feios, acúmulo de piadas sobrepostas para disfarçar a ausência de uma boa dramaturgia.

O programa "A Praça É Nossa", que se dedica ao mesmo tipo de humor, é melhor porque não tem essa camuflagem: se é para fazer piada atrás de piada e só isso, para que amarrar tudo com uma história pobre e sem sentido?

Juliana Cerdeira/Divulgação
Edwin Luisi, Osmar Prado e Marcos Oliveira em cena de 'BarbarIdade'
Edwin Luisi, Osmar Prado e Marcos Oliveira em cena de 'BarbarIdade'

BARBARIDADE
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 17h e às 21h, dom., às 16h; até 27/9
ONDE Teatro Sérgio Cardoso; r. Rui Barbosa, 153, tel. (11) 3288-0136
QUANTO R$ 40 a R$ 120
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ruim


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