O diretor chileno Manuel Basoalto rodava uma série documental sobre o poeta Pablo Neruda (1904-1973) para a TV quando percebeu que sua história daria um filme de ficção.
"É um escândalo que nenhum cineasta chileno tenha feito um filme sobre ele", diz. "Tem 'O Carteiro e o Poeta' [de Michael Radford], por exemplo, que foi rodado na Itália. Mas não tinha um filme com atores chilenos, diretor chileno e filmado nos lugares onde as coisas aconteceram."
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Cena do filme "Neruda - Fugitivo". |
Nasceu dessa ideia o filme "Neruda - Fugitivo, que estreia nesta quinta (9) e se concentra no período em que o escritor viveu clandestinamente na Argentina e na França durante um período de quatro anos. Após fazer um discurso inflamado no Congresso contra o presidente Gabriel González Videla, teve de deixar o país e adotar um novo nome.
Foram cerca de quatro anos de pesquisa, refazendo os trajetos do poeta e conversando com pessoas que o conheceram. Segundo Basoalto, se você perguntar em qualquer lugar do mundo sobre um personagem conhecido do Chile, entre os nomes certamente estará o de Neruda.
"É uma das figuras que fizeram o Chile ser conhecido fora do país, porque dedicaram sua vida a mudá-lo. Como chileno, acho que lhe devíamos um filme que seja um testemunho do que foi sua vida, sua obra, seu compromisso."
Para o diretor, Neruda é um personagem complexo, muitas vezes retratado como uma caricatura. "Alguns dizem que ele era um apaixonado pelas mulheres e ficam só nisso. Para outros, ele é apenas um poeta comunista, esquerdista", afirma. "Neruda era muito mais que tudo isso."
Era, em sua opinião, um homem "com uma sensibilidade muito latino-americana", conectado com os problemas de seu tempo. É isso que Basoalto procura mostrar no filme. "Neruda queria que sua literatura acompanhasse os processos sociais. Viveu todos os aspectos da vida apaixonadamente, inclusive seu compromisso social", diz.