Folha de S. Paulo


Mautner e Marcelino transformam mesa da Flip em um maracatu atômico

Foi em clima de festa, com aplausos e risadas a todo momento, o encontro entre o músico Jorge Mautner e o escritor Marcelino Freire na noite desta quinta (2), na Flip.

É uma mesa sexo, drogas e rock, bem disse o mediador Claudney Ferreira. E, podemos acrescentar também, de muitas citações e passagens sem sentido (ou com todo o sentido do mundo, dependendo do ponto de vista).

Artistas, agitadores culturais, verdadeiros performers no palco, os dois artistas brilharam.

"É uma honra tão grande estar aqui ao lado de Mautner. 'Eu uso óculos escuros pras minhas lágrimas esconder' [versos da canção 'Vampiro'], eu ouvia isso na juventude", disse Marcelino.

Em seguida puxou os versos "Salve nosso líder para o que der e vier, salve Jorge Mautner", sob fortes aplausos do público.

Marcelino também foi ovacionado ao comentar reportagens de jornal.

Leu um título de matéria da "Ilustrada", "Roberto Saviano, desfalque na Flip, diz que vir ao Brasil seria arriscado", e disparou: "Ele escapou foi de um atentado amoroso, porque todos os homens e mulheres iriam querer abraçá-lo e beijá-lo".

MAIORIDADE PENAL

Em seguida Marcelino criticou o projeto de redução da maioridade penal e recebeu outra ovação. Houve pelo menos mais uma, intensa, após dizer: "Eu, como homossexual, estou muito feliz com a homenagem ao escritor, ao escritor, Mário de Andrade".

Já Mautner, como de hábito, roubou a cena ao misturar os mais diversos assuntos, num encadeamento caótico, mas também, por mais estranho que pareça, muito racional.

Da defesa do Brasil como potência natural, como exemplo de país pacificista e pacífico, partiu para uma digressão que incluía física quântica, candomblé, judaísmo, neurociência, astrofísica e budismo.

Da mesma forma, pulou de citações do filósofo alemão Martin Heidegger ("a metafísica acabou, todas as respostas da ciência e da tecnologia") a outras do marechal Cândido Rondon ("morrer se preciso for; matar nunca!"), do escritor Monteiro Lobato e do político Adhemar de Barros. Um verdadeiro maracatu atômico.

Num dos momentos hilários, falou dos "neurônios saltitantes". Marcelino emendou com picardia: "Eu estou louco para um dos seus neurônios pular pra mim". "Em ritmo de frevo", conclui Mautner.

Perto do final, Mautner, quase que num fôlego só, recomendou a leitura de livros de Gilberto Freyre e do italiano Domenico De Masi, citou mais frases de Lobato ("todos os países deveriam ter suas bombas atômicas") e tratou das proximidades entre a astrofísica e a literatura.

Por vezes ele mesmo parecia surpreso com as próprias ideias. "Isso tudo não é fantástico?" É difícil discordar.


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