Folha de S. Paulo


Filme 'Sangue Azul' celebra amor livre, fantasia e espetáculo

O diretor pernambucano Lírio Ferreira partiu para seu terceiro longa de ficção com uma câmera na mão e duas ideias na cabeça -tratar de amor e fantasia.

Sete anos depois, "Sangue Azul" chega nesta quinta-feira (4) aos cinemas, fazendo uma grande ode ao prazer - artístico, amoroso, sexual.

O longa retrata a chegada do circo Netuno a uma ilha no Nordeste do Brasil. O convívio dos artistas com os moradores locais trará à tona desejos e traumas submersos.

Zolah (Daniel de Oliveira), o homem bala do Netuno, saiu da ilha ainda garoto para acompanhar o circo. Vinte anos depois, o reencontro com a mãe (Sandra Corveloni) e a irmã (Caroline Abras) irá fazê-lo encarar seus medos e angústias.

"Sangue Azul" ganhou o prêmio de melhor filme de ficção da mostra Première Brasil, no Festival do Rio 2014, e foi exibido na seção Panorama do Festival de Berlim deste ano.

A trama traz dois pontos comuns na obra de Lírio -o retorno ao lar, com a chance de confrontar o passado, e as relações incestuosas.

"Às vezes penso que faço o mesmo filme desde que comecei", brinca o diretor de 50 anos. "Interessa-me muito essa questão da impossibilidade do amor, da influência que determinada geografia exerce na vida das pessoas."

Lírio foi um dos primeiros expoentes da onda iniciada há 20 anos no cinema de Pernambuco -Estado responsável, para muitos críticos, pela produção mais vigorosa do país.

Estreou em longas em 1997, com "Baile Perfumado", codirigido por Paulo Caldas. Depois vieram "Árido Movie" (2005) e os documentários "Cartola" (2007, com Hilton Lacerda) e "O Homem que Engarrafava Nuvens" (2009), todos elogiados.

Para "Sangue Azul", interessava ao cineasta trabalhar a relação entre uma trupe itinerante e um local misterioso, como que perdido no tempo.

As filmagens foram realizadas em Fernando de Noronha (Pernambuco), ao longo de oito semanas no final de 2012. A ilha em si acaba virando mais um personagem da trama, destacada pela bela fotografia de Mauro Pinheiro Jr.

"O isolamento foi muito importante durante o processo de criação. Os atores se misturaram aos habitantes locais, houve um entrosamento e casos de amor que espelhavam a história ficcional."

Lírio define "Sangue Azul" como um filme em defesa do amor livre, da fantasia e do espetáculo. Pontuou a trama com referências artísticas importantes em sua carreira.

Paulo César Pereio (líder do circo) e Ruy Guerra (espécie de oráculo da ilha) representam o legado da cinema brasileiro. Os títulos dos capítulos do filme, como "Infância" e "Angústia", remetem a títulos de livros de Graciliano Ramos.

"Fui em busca da poesia, flertando com o lúdico, com o épico, com o próprio cinema."


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