Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Filme com Al Pacino tem começo belo, mas escorrega no melodrama

Logo na abertura de "Não Olhe para Trás", somos informados de que o filme é parcialmente baseado em fatos reais. Não deixa de ser estranho: quase toda história tem alguma base real. A observação serve, em todo caso, para deixar claro o estado de descrença a que chegou a ficção.

Isso dito, o que há de "fato real" é que John Lennon escreveu uma carta ao cantor Steve Tilston que só chegou ao destinatário 34 anos depois. No filme, a carta demora 40 anos para chegar a Danny Collins, corrompido astro de rock interpretado por Al Pacino, prisioneiro de sucessos de décadas atrás.

Quando recebe a carta das mãos de seu empresário, no entanto, Danny dispõe-se a uma aventura interior: revisitar sua vida. Pensar o que ela teria sido caso tivesse recebido a carta no devido tempo e com Lennon ainda em vida.

A ideia geral é que Danny Collins vendeu-se, sacrificou sua arte em troca do sucesso: uma espécie de Fausto contemporâneo. A primeira parte da intriga é bem lançada e as cenas musicais têm vida.

O problema real se mostra quando nos damos conta do quão minguada é a aventura interior do intérprete. Tudo se resume a encontrar o filho que nunca conheceu e consertar o estrago feito na vida do rapaz devido à sua ausência.

Temos, com isso, um belo princípio que resiste mal à proposição meramente sentimentalista que se segue: visitar a netinha, agradar a nora, tentar a vida em família...

É pouco para segurar um filme. O que vale, a rigor, é a primeira parte e a questão que lança num momento de impasse na vida do cantor.

O que vem depois é pura manobra de sedução do espectador.

NÃO OLHE PARA TRÁS
DIREÇÃO: DAN FOGELMAN
ELENCO: AL PACINO, ANNETTE BENING E JENNIFER GARNER
PRODUÇÃO: EUA, 2015, 14 ANOS
QUANDO: ESTREIA QUI. (16)


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