Apesar do sucesso no cinema, Al Pacino nunca se afastou dos palcos, onde começou a carreira. Isso faz dele o ator ideal para encarnar a descida aos infernos de Simon Axler, um velho e consagrado ator teatral que perde a capacidade de memorizar os textos.
Adaptado do romance "A Humilhação" (2009), de Philip Roth, "O Último Ato" é o drama de um ator diante de si mesmo. Transtornado, o sessentão Axler passa uma temporada num hospital psiquiátrico e quando volta para casa mergulha em profunda solidão. Com a autoestima em frangalhos, os sentidos embotados, flerta com o suicídio.
As coisas só começam a mudar quando Pegeen (Greta Gerwig), com menos da metade da idade de Axler, entra na vida dele. Filha de um casal de amigos do ator, Pegeen vai visitá-lo e o seduz, admitindo que desde pequena tinha atração por ele.
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| Al Pacino em cena do filme "O Último Ato" |
Os dois começam uma relação cheia de ambiguidades. Pegeen acaba de ter um relacionamento com outra mulher e parece estar em busca de sua identidade sexual. Por outro lado, a conjunção carnal entre eles não acontece. Axler é impotente, enquanto ela se satisfaz com uma série de acessórios eróticos.
Em certos momentos Pegeen parece ser uma alucinação produzida por uma mente senil, pois algumas cenas indicam que Axler confunde o real com a imaginação. Seja como for, Pegeen é fundamental para Axler vencer a letargia e voltar aos palcos numa montagem do "Rei Lear".
A cena final —do filme e da peça—, que mantém o suspense até o fim, resume admiravelmente o filme quando Axler apaga a linha divisória entre ficção e realidade: relato sobre a simulação e as aparências enganosas, "O Último Ato" é uma homenagem ao teatro.
Pacino está à altura da tarefa, construindo com desenvoltura um personagem complexo e redimindo-se de passagem de ter participado de filmecos como "Amigos Inseparáveis" (2012), de Fisher Stevens, e "Cada um Tem a Gêmea que Merece" (2011), de Dennis Dugan.
O ÚLTIMO ATO
(THE HUMBLING)
DIREÇÃO Barry Levinson
ELENCO Al Pacino, Greta Gerwig, Kyra Sedgwick
PRODUÇÃO EUA, 2014, 14 anos
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO bom