Folha de S. Paulo


Acento brasileiro suaviza palavrões em Portugal, brinca integrante do Porta dos Fundos

O desbocado esquete "Sobre a Mesa", em que Odete (Júlia Rabello) diz "tudo o que ela quer" para seu marido Mário Alberto (Antonio Tabet), virou hit em Portugal. É um dos vídeos do Porta dos Fundos mais acessados por lá e fisgou a audiência para a estreia da trupe, neste ano, na Fox local.

O gosto dos portugueses, que já reconhecem os atores nas ruas, surpreendeu o Porta. Num país muito católico, não houve, segundo o grupo, reações extremadas à quantidade de palavrões dos vídeos ou aos esquetes "bíblicos", que debocham de Noé e de Moisés.

Os vídeos são exibidos em Portugal com o áudio original.

Cecilia Acioli/Folhapress
Elenco do Porta dos Fundos, na sede do grupo em Laranjeiras
Elenco do Porta dos Fundos, na sede do grupo em Laranjeiras

"Tenho uma teoria de que a barreira da língua, o português do Brasil, suaviza as piadas para os portugueses. Talvez eles não entendam todos os palavrões cabeludos", brinca Ian SBF, sócio do Porta. "Gravamos um vídeo promocional dublado com português de Portugal e eles ficaram horrorizados [risos]".

O grupo também atribui a ruídos da língua a recepção portuguesa a outro sucesso do Porta, o "Quem Manda", vulgo "Gorilão da Bola Azul", em que um pai troglodita intimida o namorado adolescente de sua filha até pedir que o garoto pinte de azul seu testículo.

"Portugal estava traumatizado com um escândalo de pedofilia e muitos associaram o vídeo a isso. Acharam que o personagem era pedófilo, não entenderam", afirma a sócia do Porta Juliana Algañaraz.

Para Ian, esquetes de humor político são mais difíceis de emplacar lá fora. "Pode ser impressão minha, mas acho que brasileiro faz mais piada com político corrupto", diz.

Mesmo assim, ele afirma que o grupo não se pauta por costumes locais, pedidos do público ou pelos vídeos mais acessados. "Prova disso é que uma vez fizemos uma enquete e 98% pediram vídeos de sátiras do 'BBB'. Nunca fizemos nenhuma", continua.

"Começamos fazendo o que queríamos e as pessoas descobriram que gostavam também. Vão parar de gostar se fizermos o que elas querem."


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