Folha de S. Paulo


Crítica: Underwood se distancia de Cunha e vive dias de Dilma Rousseff

A comparação mais óbvia de Frank Underwood, protagonista de "House of Cards", com o cenário político brasileiro sempre foi com Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ambos são políticos habilidosos, inteligentes, que não medem esforços para atingir objetivos, focados e ambiciosos.

Pois na terceira temporada, quando chega à Casa Branca, no exato momento em que Cunha atinge a presidência da Câmara, Underwood passa a enfrentar dilemas que se aproximam mais do dia a dia de Dilma Rousseff que o do peemedebista.

A presidente, fã confessa do seriado, há de sorrir diante da ironia da coincidência da conjunção de crises externa, política e econômica enfrentada por Underwood.

Editoria de Arte/Folhapress

Identificará uma impressionante semelhança na ideia de nomear a advogada-geral do país para a Suprema Corte, e certamente achará sonoro o nome American Works, o plano marqueteiro para criar 10 milhões de empregos, tirar os EUA da crise e catapultar a candidatura à reeleição.

Impossível não lembrar, diante da dificuldade de Underwood em obter a indicação de seu partido para a disputa, do "Volta Lula" que atormentou Dilma.

Da mesma forma, a existência de um ex-assessor tão próximo dos Underwood incomodado e disposto a contar o que sabe dos bastidores do poder fará com que os espectadores brasileiros pensem nos delatores da Lava Jato, instados a falar depois de meses presos em Curitiba.

Por fim, existe a imprensa e sua mania de questionar. A correspondente Ayla Sayyad, do fictício "Wall Street Telegraph", substituta da finada Zoe, seria considerada integrante do "partido da imprensa golpista" por incomodar com perguntas indesejáveis.

Com tantos ingredientes familiares a qualquer um que acompanha, como profissional ou observador, a cena política brasileira ou internacional, "House of Cards" mantém os ingredientes que a notabilizaram: verossimilhança, ainda que obviamente as maquinações de Underwood sejam bem mais sofisticadas e interessantes que a vida real, charme, profundo estudo psicológico dos personagens e texto impecável.

Estão lá a estranha simbiose de Frank e Claire, a primeira-dama que tenta cavar espaço próprio, Doug em suas múltiplas facetas, agora ferido, os assessores ambíguos, os políticos menos brilhantes que se interpõem no caminho de Underwood e as pelo menos três subtramas que se desenrolam a cada episódio.

Ainda bem que o formato da Netflix permite pausas. Nos seis primeiros episódios disponibilizados à imprensa, é impossível sequer ir ao banheiro. Dilma precisará achar um tempo se quiser ficar em dia com o seriado.

NA TV/NA INTERNET
HOUSE OF CARDS
Estreia da terceira temporada
QUANDO nesta sex. (27), na Netflix
AVALIAÇÃO ótimo


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