Além da conhecida oferta de roupas com preços baixos, a região do Bom Retiro, no centro de São Paulo, oferece grandes nomes da moda mundial.
Nos últimos três anos, o bairro conseguiu o feito de concentrar, numa mesma rua (a Silva Pinto), o nome do estilista inglês Alexander McQueen, a marca americana de "fast fashion" Aéropostale, a italiana Missoni e a prestigiada MK, do estilista norte-americano Michael Kors.
Só que não! Melhor olhar as fachadas com um pouco mais de cuidado. Na verdade, trata-se de cópias e analogias dos nomes e logotipos das marcas originais.
Na versão fashion "bom-retirense", Aéropostale vira Aérostore, e as camisetas seguem o padrão Control + C, Control + V (atalhos para copiar e colar no computador).
Já McQueen comparece na Emporium Macqueen, loja multimarcas que vende grifes de moda casual como Ellus e Hollister –e não tem nenhuma ligação com o estilista inglês morto em 2010.
Em dois dias de passeio pela região, a reportagem encontrou 11 nomes de lojas que reproduzem o nome e/ou o logotipo de grifes e redes.
"É mais chique, né? Dá uma impressão de roupa melhor", diz a consumidora Gilmara Xavier, 27. Apesar de não ter encontrado um vestido de festa na Misony, ela sabe: "Os italianos têm bom gosto e o nome similar ajuda as pessoas a se identificarem com a roupa". Ela não poderia mesmo ir à Missoni, pois a grife italiana encerrou suas atividades no Brasil em 2011.
A poucos metros de Gilmara, pontos de etiquetas similares aos da inglesa Liberty (não mudaram nem o nome), da italiana D&G (aqui, D&C) e da rede de "fast fashion" Forever 21 (traduzida como Fashion 21) amontoam-se na rua José Paulino, a mais famosa do varejo local.
O cliente desse shopping a céu aberto pode não ter como gastar mais de R$ 1.500 numa bolsa da grife italiana Miu Miu, mas vai comprar por menos de R$ 100 um vestidinho curto e florido da Mi In, que segue a mesma identidade visual da original.
"É uma oportunidade de vestir uma coisa que talvez se pareça com o original. Todo mundo quer ter uma Chanel ou uma Prada", afirma a estudante Elisângela Lima, em frente à D&C.
SAMAMBAIA
"Até perguntam se tem alguma relação com o estilista, mas o que chama atenção mesmo é nosso design das roupas. A samambaia na frente da loja atrai os clientes", afirma o vendedor André Bertelli, gerente da Emporium Macqueen.
Ele diz não conhecer a fundo a história de Alexander McQueen, um dos maiores nomes da história da moda, "por não pesquisar muito". "Mas sei que era um cara top."
Dos cabides, devidamente gravados com o nome "MacQueen" igual ao logo da original, Bertelli destaca as peças da Abercrombie & Fitch e da Ecko. "Só as camisetas maravilhosas".
O dono da loja é o estilista Lucca Vasconcellos, que mantém loja homônima no mesmo bairro e veste coelhinhas da "Playboy", ex-BBBs e capas de revistas masculinas. Ele não foi localizado por telefone.
Quase nenhum dos outros donos e representantes das lojas identificadas quis falar com a reportagem.
Para driblar a similaridade com os nomes originais, alguns lojistas chegam a dar nome às siglas.
É o caso da BCBG by Givy, marca de moda "plus size" que tem identidade visual similar à da americana BCBGMAZRIA. Segundo uma vendedora, a sigla significa "Bom Chique Bom Gosto".
Já a D&C deixa claro, em um letreiro dentro da loja, que o nome tem um significado mais profundo que Dolce & Cabbana, referência à marca italiana Dolce & Gabbana. Ali, D&C significa "Diva Couture".
A gerente da MK do Bom Retiro, Ruth Ferreira, confessou o interesse dos clientes pelo logo parecido com o das bolsas da personagem Carminha da novela "Avenida Brasil", da TV Globo.
MESTRE KIM
O folhetim popularizou, em 2012, a imagem MK da grife Michael Kors no Brasil. No mesmo ano, a rede de lojas Mestre Kim, famosa há 15 no Bom Retiro, abriu seu primeiro ponto MK.
"Na verdade, é só estiloso. Acho que ele [Mestre Kim] achou simpático. Não tem nada a ver com a outra marca", diz Ferreira. Qual marca? "Melhor não falar, né?"