Folha de S. Paulo


Filme sobre Joãosinho Trinta recria alegorias e história do Carnaval de 74

O diretor Paulo Machline nunca foi folião, até que, em 2012, precisou colocar o bloco na rua. À frente da produção de "Trinta", filme biográfico sobre o carnavalesco Joãosinho Trinta, tinha de recriar o desfile do Salgueiro de 1974.

O carnaval daquele ano —que alavancou a carreira de Joãosinho Trinta (1933-2011) e norteou a opulência visual adotada pelas escolas de samba até hoje— conduz o enredo do longa de Machline que estreia nesta quinta (13), com Matheus Nachtergaele no papel do carnavalesco.

"Todo mundo com uma certa idade lembra do Joãosinho vindo atrás da escola de samba, com os braços abertos e sorrindo", conta. "Me interessava contar de onde ele veio."

Divulgação
Matheus Nachtergaele vive o carnavalesco no filme 'Trinta
Matheus Nachtergaele vive o carnavalesco no filme 'Trinta'

O projeto começou em 2003, com uma série de entrevistas de Machline para o documentário "A Raça Síntese de Joãosinho Trinta" (2009), que serviram como base para o roteiro da ficção lançada agora.

O diretor diz que se interessou pela figura de Joãosinho Trinta após ler uma crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha em 2002, "sobre o artista antes de ser o artista".

Maranhense autodidata, o carnavalesco se mudou para o Rio de Janeiro nos anos 1950, sonhando em fazer parte do corpo de baile do Theatro Municipal. Conseguiu.

Frustrado com o balé, tempos depois foi convidado pelo cenógrafo Sergio Pamplona –que depois o levaria para o carnaval– para trabalhar como aderecista, de onde galgou até a direção de cena. "Nesse momento ele ganha forças para virar o que foi", diz Machline.

Para o diretor, seria impossível rodar um filme sobre Joãosinho sem um grande investimento na direção de arte, assinada por Daniel Flaksman.

Flaksman estima que 20% do orçamento tenham ido para a produção visual, que consistiu em reconstruir três carros alegóricos, a fantasia de 35 kg utilizada por uma passista e os demais adereços.

"O custo do carnaval é um pouco fora dos padrões do cinema brasileiro. A gente se virou nos 30, literalmente", diz.

Ele conta que a maior parte da verba da arte foi mesmo para as alegorias e para o aluguel do barracão da escola de samba Vizinha Faladeira, do grupo de acesso do Rio de Janeiro, e das outras locações.

Porém o carnaval só sairia com a ajuda de profissionais dos barracões, que trabalharam no set enquanto o filme era rodado. Alguns dos artistas envolvidos na produção chegaram a trabalhar com Trinta, como o desenhista Roberto Monteiros, que assina os croquis do longa.

Flaksman conta que os adereços –feitos da mistura de tecidos, fibra de vidro, isopor e brilhos– são personagens que também ajudam a narrar a trajetória do carnavalesco.

"Ele era um gênio, inteligentíssimo, um estudioso das artes plásticas que aproximou a composição do carnaval à de uma ópera. Não sei se eu conseguiria colocar uma escola na rua todo ano", diz Flaksman.

No fim, colocou pelo menos uma: os adereços e estruturas dos carros alegóricos usados no filme foram doados à mesma Vizinha Faladeira de quem a produção alugou o barracão, que desfilou as alegorias depois.

TRINTA
DIREÇÃO Paulo Machline
ELENCO Matheus Nachtergaele, Paolla Oliveira e Milhem Cortaz
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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