Folha de S. Paulo


Crítica: Drama realista acaba por desperdiçar amplitude de atores em 'Frida y Diego'

Como seria de esperar, Frida Kahlo e Diego Rivera estão muito bem representados em imagem, na encenação de Eduardo Figueiredo, com a cenografia, os figurinos e os adereços de Márcio Vinicius –diretor de arte com trabalhos exuberantes, a exemplo do que acontece agora, nas montagens neobarrocas de Gabriel Vilela.

Os dois artistas mexicanos estão também representados em efígie, por assim dizer, nas fisionomias severas dos atores Leona Cavalli e José Rubens Chachá.

Estão ainda na música executada ao vivo, acordeon e baixo, inclusive na canção final interpretada de forma tocante por Chachá –cujo talento para musicais começa a ser redescoberto.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Peça
Peça "Frida y Diego" com os atores Leona Cavalli e José Rubens Chachá

O problema de "Frida y Diego" surge nos diálogos e nos personagens que se sobrepuseram aos artistas, na peça de Maria Adelaide Amaral.

A autora de teatro e de TV começou engajada no palco dos anos 70, depois arriscou um musical, mas em algum momento se encontrou plenamente nos dramas de casais.

Desde pelo menos "De Braços Abertos", texto de três décadas atrás, os conflitos comezinhos, as traições amorosas, o cotidiano desgastante são os seus temas.

"Frida y Diego", agora, adapta seus personagens já tão conhecidos aos dois geniais artistas. Um drama realista que acaba por desperdiçar também Cavalli e Chachá, intérpretes de amplitude maior no palco, ela na tragédia, ele na comédia.

A exemplo do que acontecia com o filme hollywoodiano "Frida", dirigido em 2002 por Julie Taymor, a encenadora de "O Rei Leão" para o palco, o realismo tão conhecido da vida privada não serve agora para esclarecer coisa alguma da criação de Frida ou Diego Rivera.

E o espectador se alivia quando as imagens tomam o primeiro plano, aqui e ali, deixando para trás os ecos de "Inseparáveis" e outras peças da autora.

Sem o gigantismo e o colorido de Hollywood, até pelo contrário, achando pontes singelas entre México e Brasil, "Frida y Diego" consegue evocar ambos, ainda que pontualmente.

FRIDA Y DIEGO
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h e dom., às 19h
ONDE Teatro Raul Cortez - Fecomércio, r. Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, São Paulo, tel. (11) 3254-1631
QUANTO de R$ 60 a R$ 80
AVALIAÇÃO bom


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