A escritora Guiomar de Grammont disse neste sábado (11) que decidiu deixar o júri final do Prêmio São Paulo de Literatura porque nunca exerceu "nenhuma atividade em que pairasse a menor suspeita de falta de ética e transparência".
Grammont foi desligada da premiação no sábado, depois que a coluna Painel das Letras, da Folha, informou que ela editara dois dos livros finalistas, "Nossos Ossos", de Marcelino Freire, e "O Evangelho Segundo Hitler", de Marcos Peres, enquanto era editora-executiva de ficção nacional da Record, em 2013.
Após a publicação da coluna, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, responsável pela premiação, enviou nota informando que a decisão fora tomada em comum acordo com Grammont, como "medida necessária para garantir a credibilidade do resultado do Prêmio".
Segundo a secretaria, a mudança na decisão ocorrera após consulta a todo o corpo de curadores, composto por Andrea Saad Hossne, José Castilho Marques Neto, Ligia Fonseca Ferreira, Márcia Elísa Garcia de Grandi e Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan.
Grammont disse que enviou e-mail aos organizadores da premiação destacando o fato de não ter "vínculo de parentesco ou profissional com nenhum candidato ao prêmio", mas que, mesmo assim, preferia deixar o júri.
"Tenho doutorado em literatura brasileira pela USP e comprovada experiência profissional nesta área. Desde dezembro de 2013 não faço mais parte da editora Record e o fato de ter sido editora de ficção nacional é atestado da minha competência e rigor na análise da qualidade das obras literárias", escreveu Grammont.
Nesta sexta (10), ao ser questionada sobre se não haveria conflito ético na escolha de uma jurada que editou dois dos concorrentes, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo usou o argumento de que, "quando Guiomar de Grammont foi convidada a compor o júri da 7ª edição do prêmio, já não atuava como editora do mercado literário". Grammont, por sua vez, argumentara que o fato de ter editado os livros apenas a faria ter "uma responsabilidade ainda maior no cuidado com a isenção".
ETAPA FINAL
Guiomar de Grammont participaria apenas desta etapa final da premiação, ao lado dos jurados do Carlo Carrenho, criador do Publishnews; Ivan Marques, professor de literatura brasileira da USP; Rita Palmeira; editora da Três Estrelas, da Folha, e Rubens Figueiredo, escritor e tradutor.
Os livros editados por Grammont chegaram à final após seleção por júri composto por outros dez jurados.
Os vencedores da premiação, que paga R$ 200 mil ao melhor romance do ano e R$ 100 mil aos melhores romances de estreantes, nas categorias menos de 40 anos e mais de 40 anos, serão conhecidos em novembro.
Confira os romances finalistas:
MELHOR LIVRO DO ANO 2013
Adriana Lisboa - "Hanói", Alfaguara (Objetiva)
Alberto Martins - "Lívia e o cemitério africano" (Editora 34)
Ana Luisa Escorel - "Anel de vidro" (Ouro sobre azul)
Bernardo Carvalho - "Reprodução" (Cia. das Letras)
Carlos de Brito e Mello - "A cidade, o inquisidor e os ordinários" (Cia. das Letras)
Joca Reiners Terron - "A tristeza extraordinária do leopardo-das-neves" (Cia. das Letras)
Marco Lucchesi - "O bibliotecário do imperador" (Globo Livros)
Michel Laub - "A maçã envenenada" (Cia. das Letras)
Rodrigo Lacerda - "Carlos Lacerda - A República das abelhas" (Cia. das Letras)
Sérgio Rodrigues - "O Drible" (Cia. das Letras)
MELHOR LIVRO DE ESTREANTE COM MAIS DE 40 ANOS
Amilcar Bettega - "Barreira" (Cia. das Letras)
Cadão Volpato - "Pessoas que passam pelos sonhos" (Cosac Naify)
Marcelino Freire - "Nossos ossos" (Record)
Flavio Cafiero - "O frio aqui fora" (Cosac Naify)
João Anzanello Carrascoza - "Aos 7 e aos 40" (Cosac Naify)
Rogerio Pereira - "Na Escuridão, amanhã" (Cosac Naify)
Veronica Stigger - "Opisanie Swiata" (Cosac Naify)
MELHOR LIVRO DE ESTREANTE COM ATÉ 40 ANOS
Ieda Magri - "Olhos de bicho" (Rocco)
Laura Erber - "Esquilos de Pavlov", Alfaguara (Objetiva)
Marcos Peres - "O evangelho segundo Hittler" (Record).