Folha de S. Paulo


Projeto em Londres recria filmes clássicos em cidades cenográficas

Quando George McFly acerta um soco no desafeto Biff para defender a bela Lorraine, a multidão celebra como um gol. O filme, "De Volta para o Futuro", é de 1985, a cena se passa em 1955, e o público londrino a assiste em pleno 2014.

Poderia parecer antigo para quem gosta de cinema, não fosse a fantasia que recriou em Londres a fictícia Hill Valley, na Califórnia, e os lugares eternizados por Marty McFly, filho de George e Lorraine, Dr. Emmett Brown e sua máquina do tempo.

Enquanto o clássico é transmitido num telão a céu aberto para 3.500 pessoas, atores reproduzem as cenas pela cidade cenográfica –como a do Dr. Brown na torre do relógio tentando ajudar Marty (Michael J. Fox), que havia voltado 30 anos no tempo, a retornar para 1985.

O chamado "Cinema Secreto" é um fenômeno entre os londrinos que, na temporada de agosto, encerrada no fim de semana passado, vendeu 77 mil ingressos para 22 sessões.

Clássicos como "Os Caça-Fantasmas" (1984) estão entre as 21 temporadas anteriores, realizadas a cada três, quatro meses. Os organizadores estimam que 200 mil pessoas passaram pelo projeto.

Nesta semana foi anunciado que o projeto vai ser levado a Los Angeles em 2015.

Criado em 2007 pelo britânico Fabien Riggal, o evento pode parecer caro (R$ 210) para ver um filme velho. Não deixa de ser verdade.

SURPRESA

Antes do evento, que dura cinco horas, pouco se sabe sobre o que vai acontecer. A ideia é que tudo seja uma surpresa. Aí está a sacada para convencer o espectador de que não fez um mau negócio. E não fez.

Quem compra o ingresso recebe por e-mail uma identidade fictícia –no caso, virei Dale Krause, um operador de rádio do "Hill Valley Telegraph".

Hill Valley foi recriada num espaço ao lado do Parque Olímpico, dos jogos de 2012.

É tudo, na verdade, uma grande brincadeira para celebrar a transmissão de um clássico de maneira interativa. Em "De Volta para o Futuro", quem quis –a maioria dos presentes– foi vestido com roupas dos anos 1950 (confesso que pequei nesse quesito).

É proibido entrar com telefone celular e câmera digital, afinal, em 1955 não havia nada disso. Tudo é confiscado na portaria.

Máquinas fotográficas descartáveis são vendidas lá dentro, o que cria cenas bizarras de jovens da "geração smartphone" sofrendo para girar o filme e bater uma das 30 fotos disponíveis. Os portões abrem às 18h e o filme só é transmitido três horas depois, quando escurece.

O que fazer antes disso? Consumir em lugares como a lanchonete onde Marty McFly encontra seu pai, George, em 1955, após sua viagem no tempo. Ali, aliás, os preços dos anos 1950 não existem –uma latinha de cerveja sai por £ 4 (R$ 16).

É possível curtir ainda a escola de Hill Valley, o posto de gasolina Texaco, e uma banda reproduzindo o salão do baile em que George consegue, enfim, conquistar o coração de Lorraine.

"A experiência é fascinante. Meu filho, de 12 anos, está encantado", disse o canadense Dave Bryan, que vive em Londres há um ano.

O auge da festa é às 21h. quando escurece. O filme começa a céu aberto numa tela na torre do famoso relógio, com milhares de pessoas num imenso gramado. Muita gente sabe de cor as frases do filme e as recita com os personagens.

A noite acaba, é hora de revelar as fotos das câmeras descartáveis. As minhas ficaram péssimas.


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