Folha de S. Paulo


'É possível ser forte e feminina', diz autora da trilogia 'A Seleção'

Kiera Cass, 33, foi parar na literatura por acaso. Formada em história, começou a escrever após o massacre na universidade de Virginia Tech (EUA), em 2007.

Neste dia, seu marido estava no campus quando um jovem assassinou 32 pessoas antes de cometer suicídio. Para ela, dedicar-se aos livros foi uma forma de se recuperar da tragédia.

A terapia funcionou: além de minimizar o trauma, Cass se tornou uma das autoras mais lidas pelo público infanto-juvenil, com a trilogia "A Seleção". Os três primeiros livros da saga ("A Seleção", "A Elite" e "A Escolha") estão na lista de dez mais vendidos do "The New York Times", na categoria "séries", há 15 semanas ininterruptas.

No Brasil, a autora já vendeu mais de 400 mil livros e deixou milhares de fãs.

O enredo de "A Seleção" se passa em um reino dividido em castas sociais. Uma jovem de origem humilde, America Singer, é convocada para participar de um concurso com outras 34 garotas para que seja escolhida a mulher do príncipe Maxon.

Apesar da nova rotina luxuosa no palácio real, America ainda é apaixonada por seu namorado, também pertencente a uma casta inferior. Mas, à medida que vai conhecendo o príncipe, ela passa a questionar seus sentimentos. Em meio à competição, um grupo de rebeldes tenta invadir o castelo e acabar com o sistema de castas.

Além da trilogia inicial, a história rendeu mais duas obras que retomam personagens. Neste mês, Cass anunciou a continuação da série com outras quatro edições. A primeira delas, "The Heir" (o herdeiro, em inglês), será lançada em maio de 2015.

Leia trechos da entrevista com a autora.

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Folha - Seus livros têm sido um enorme fenômeno de vendas por todo o mundo. Esse sucesso te surpreendeu?
Kiera Cass - Ninguém esperava que fosse haver o sucesso que teve. Nem mesmo minha editora. Ela dizia "não crie expectativas, você é uma estreante". Então, quando aconteceu, ficamos todos um pouco deslumbrados. Eu fico esperando a excitação abaixar, mas continuo me surpreendendo todos os dias.

Como você explica essa crescente audiência de jovens leitores?
Eu acho que adolescentes gostam de ouvir vozes que se parecem com a deles, mesmo que sejam de personagens vivendo experiências completamente diferentes.

Eles estão descobrindo quem eles são, o que querem fazer de suas vidas, estão se apaixonando pela primeira vez. Mesmo como adultos, há tantas primeiras vezes, acho que é reconfortante ler essas experiências. Acredito que seja um dos motivos pelos quais adultos também gostam desses livros.

Como você explica essa crescente audiência de jovens leitores?
Eu acho que adolescentes em particular gostam de ouvir vozes que se parecem com a deles, mesmo que sejam de personagens vivendo experiências completamente diferentes. Eles estão descobrindo quem eles são, o que querem fazer de suas vidas, estão se apaixonando pela primeira vez. Mesmo como adultos, há tantas primeiras vezes , acho que é reconfortante ler essas experiências. Acredito que seja um dos motivos pelos quais adultos também gostam desses livros.

Como você constrói seus personagens femininos, especialmente America [a personagem principal da trilogia]?
Eu tento escrever os personagens tal como eles são. É engraçado porque America veio à minha cabeça quase totalmente formada.

Eu tive medo que as pessoas não a vissem como um modelo de mulher forte. Ela não sai com um arco e uma flecha, ela não está lutando em um sentido "masculino", mas há tantas outras qualidades incríveis que às vezes não são consideradas.

Às vezes pensamos que a única forma de ser forte é a versão masculina de força. Mas é possível ser forte em versão mais feminina ou mais quieta.

Que dica você daria para seus jovens leitores que sonham em ser escritores de sucesso?
Leiam tudo, até coisas que vocês acham que vão odiar. Isso ajuda a escolher como vocês querem escrever. Sonhem acordados a todo momento. Aprendam a ser durões. É difícil quando você começa a dividir seu trabalho, as pessoas nem sempre são gentis.

TAÍS HIRATA é trainee da 58ª turma do Programa de Treinamento, que tem patrocínio da Ambev, da Philip Morris Brasil e da Odebrecht.
PAULA SAVIOLLI é estagiária da Editoria de Treinamento


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