Folha de S. Paulo


Jogo 'Destiny' engrossa safra de games mais sofisticados e interativos

Um ano atrás, ao anunciar o lançamento de "Destiny", a produtora de games Bungie disse que sua ambição para o jogo era um lugar ao lado de "Senhor dos Anéis" ou "Guerra nas Estrelas". Para si mesma, ao lado da Pixar.

Em suma, narrativas trabalhadas, amplas, avatares aperfeiçoados ao longo de meses por cada jogador e múltiplas interações on-line.

Tendo criado "Halo", que estabeleceu o console Xbox a partir de 2001, e tendo passado dez anos desenvolvendo "Destiny", a Bungie fez do novo jogo um fenômeno de expectativa —que só fez crescer com a entrada da Activision ("Call of Duty") como desenvolvedora associada.

O lançamento é dia 9. Mas nem todos estão convencidos da revolução prometida.

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Imagem do game 'Destiny', que terá lançamento mundial no dia 9
Imagem do game 'Destiny', que terá lançamento mundial no dia 9

O escritor Daniel Galera, autor de um estudo sobre a narrativa do game "Prince of Persia", sabe ser "um dos jogos mais antecipados do ano", mas não se interessa. Diz que, com exceções, o gênero "shooter", de tiros, tem histórias estereotipadas. "Se a comparação é com Star Wars', pior, pois é um sinônimo de conservadorismo."

Arthur Protasio, designer de narrativas e consultor da Globo, é mais otimista. "É um novo universo sci-fi', com pegada mais coletiva, mais jogadores", diz. "Com a nova geração de consoles [Xbox One, PlayStation 4], está surgindo uma preocupação de oferecer conteúdo inovador."

Ele diz porém que a liberdade para inovar é menor para "grandes" como a Bungie.

Daniel Pellizzari, escritor e colunista de games da Folha, vai na mesma linha. "Destiny' pode ser divertido, pode ter enredo interessante e personagens tridimensionais, mas sempre será no máximo entretenimento de qualidade, escapismo adolescente."

MAIS DRAMATICIDADE

"Destiny" não é o único "blockbuster" a projetar uma nova era para os games. Franquias estabelecidas como "Grand Theft Auto", "Assassin's Creed" e até "Fifa" vêm buscando mais "drama".

"GTA 5" foi eleito melhor jogo do ano passado em algumas listas, por exemplo, por Stephen Totilo, do "New York Times", exatamente pela maior dramaticidade em torno de seus três avatares.

"Papers, Please", independente e para computador, uma distopia que se passa num Estado totalitário, é outro que frequentou as listas por razões semelhantes.

"Todo o drama de Papers' emerge da interação do jogador com o universo ficcional, se desenrolando de forma pessoal, oferecendo experiência diferente a cada jogador", relata Daniel Pellizzari.

É quase unânime, na indústria e na crítica de games, a visão de que o desenvolvimento da narrativa nos jogos virá daí —da interatividade— e não da reprodução de narrativas de cinema ou literatura.

Bertrand Chaverot, diretor para América Latina da produtora de games francesa Ubisoft, afirma que, "nos jogos do futuro, [o roteiro será] cada vez mais do jogador e menos do time de criação".

Hoje o caminho do jogador "não é 100% livre, mas tem vários finais e personagens", o que foi acentuado em "Assassin's Creed Unity", que a Ubisoft lança em outubro.

Como "Destiny", o novo "Assassin's" tem elementos que o aproximam do gênero MMO (multijogador massivo online) de games para computador como "World of Warcraft", da Activision —envolvida também em "Destiny".

"Esse tipo de jogo tem como característica interessante a abundância de narrativas emergentes, criadas pelos jogadores a partir de interações e ideias que não estavam no roteiro", diz Daniel Galera.

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Computação gráfica do game 'Destiny
Computação gráfica do game 'Destiny'

HOLLYWOOD

Destiny (Xbox One)
Activision
Destiny
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Mais do que influenciada pelo cinema, a indústria de games começa a agir na direção contrária, parte de um movimento maior de "cross media" ou mídia cruzada.

"Assassin's Creed" sai como filme no ano que vem, com o alemão Michael Fassbender, o Magneto de "X-Men", de protagonista.

Outros títulos em preparação, no que alguns já veem como uma nova grande onda de adaptações cinematográficas, depois daquelas tiradas dos quadrinhos, incluem "Dead Island" e "Warcraft".

Chaverot anota que, diferentemente das produtoras americanas de games ou cinema, a Ubisoft é uma empresa "internacional", baseada na França e no Canadá.

Em seus roteiros não haveria "nem preto nem braco", diferentemente da Hollywood "maniqueísta" e dos desenvolvedores americanos que hoje povoam os seus games com vilões russos e até brasileiros. O início de "Assassin's Creed" avisa que foi criado por designers de "várias crenças, sem mensagem política ou religiosa".

CRÍTICAS DE 'DESTINY' PELO MUNDO

Guardian

Sob o título "Como os criadores de Halo' pretendem mudar o futuro dos shooters'", o londrino "The Guardian" diz que "é notícia grande, imensa, uma tempestade perfeita de ambição tecnológica, hype e expectativa"

USA Today

No texto "Uma espiada dentro de 'Destiny', da Bungie", o americano "USA Today" diz que "é difícil não olhar para o game como o início de uma nova e arrepiante franquia" e que o jogo é uma "jornada épica"

The Scapist

"'Destiny' é criação magistral de game", titula a revista digital especializada "The Scapist", para quem "existe no jogo atmosfera o bastante para convencer de que este será um dos games mais bem-sucedidos da nova geração de consoles"


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