Folha de S. Paulo


Com máscaras e rock pesado, Titãs iniciam turnê do novo disco no Rio

Já era madrugada de domingo (24) quando um bando de mascarados, parecendo palhaços infernais, entrou no palco esfumaçado do Circo Voador, no Rio. Eram os Titãs, para dar partida à turnê de "Nheengatu", seu álbum mais recente.

O visual inusitado –o mesmo do clipe de "Fardado", primeiro single do disco e música de abertura da noite– chamou atenção dos fãs que lotavam a tenda da Lapa, mas a grande novidade foi mesmo a confirmação de que a banda está de volta à pauleira, com seu show mais pesado em décadas, provavelmente desde a turnê do "Titanomaquia", na primeira metade dos anos 1990.

"Nheengatu", o disco que marcou essa volta à velha forma, repercutiu bem com o público, pelo que se viu no Circo: uma molecada cheia de gás, que descobriu os Titãs como banda de rock, abriu roda do início ao fim e acompanhou os refrãos de boa parte das novas canções – foram 12 das 14 faixas do álbum.

Havia também vários casais arrumadinhos, com cara de que queriam cantar coisas como "Epitáfio" e "É Preciso Saber Viver", mas essa fase pós-"Acústico" parece ter ficado para trás; mesmo as canções mais pop, como as velhas "Sonífera Ilha" e "Televisão", vieram em versões aceleradas.

As que já eram naturalmente agressivas, como "Polícia" e "Lugar Nenhum", ficaram ainda mais punk.

Em linha com o tom virulento das novas composições, definidas como "polaroides" sobre o Brasil de hoje, a banda puxou para o set list músicas como "Desordem" e "Estado Violência", além de outras críticas que já vinham aparecendo regularmente, como "Vossa Excelência" e a versão de "Aluga-se", de Raul Seixas (felizmente sem o "lalalá" que eles haviam inserido no refrão).

É pena que, num show com essa pegada, nenhuma canção de "Titanomaquia" (1993), o álbum mais pesado da banda, esteja no repertório.

Cinquentões, os quatro remanescentes da formação original –Sérgio Britto (teclados, baixo e vocal), Paulo Miklos (guitarra e vocal), Branco Mello (baixo e vocal) e Tony Bellotto (guitarra solo) – mostraram estar afiados fisicamente, rejuvenescidos pela energia do repertório. O jovem baterista Mario Fabre fecha o quinteto com segurança.

Como é comum em qualquer turnê que se inicia, o repertório ainda precisa de ajustes – por exemplo, a versão de "Canalha", de Walter Franco, derruba o ritmo, ainda mais abrindo o bis, como foi apresentada–, assim como a execução.

Mas é bom ver que, num momento em que o rock parece estar em baixa, uma das maiores bandas do gênero no país volta à carga.

Repertório Titãs

"Fardado"
"Pedofilia"
"Cadáver sobre Cadáver"
"Baião de Dois"
"Chegada ao Brasil (Terra à Vista)"
"Senhor"
"Polícia"
"Fala Renata"
"Bichos Escrotos"
"Mensageiro da Desgraça"
"República dos Bananas"
"Flores"
"AAUU"
"Desordem"
"Vossa Excelência"
"Diversão"
"Televisão"
"Cabeça Dinossauro"
"32 Dentes"
"Quem São os Animais"
"Estado Violência"
"Lugar Nenhum"
"Eu me Sinto Bem"
"Sonífera Ilha"
"Canalha"
"Aluga-se"
"Homem Primata"
"Comida"
"Igreja"
"Marvin"


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