Folha de S. Paulo


Crítica: Coral se destaca em concerto da Sinfônica de SP

Como a apresentação foi quase totalmente dedicada à música vocal, o ótimo programa impresso (distribuído gratuitamente) auxiliou enormemente o público presente ao Theatro Municipal na noite de sábado (2).

A reprodução de todos os textos cantados -nas versões originais e em traduções preparadas por Irineu Franco Perpétuo- teve o cuidado de apontar a correspondência entre os versos musicados e cada seção das obras, o que permitiu ao ouvinte interessado acompanhar o contexto do espetáculo passo a passo.

A única peça instrumental foi a abertura "Mar Calmo e Viagem Próspera", de Felix Mendelssohn (1809-47). Regida com atenção às minúcias pelo italiano Rinaldo Alessandrini, a Orquestra Sinfônica Municipal esteve bem, apesar de parecer um pouco cansada.

A energia veio com as vozes nas outras duas composições de Mendelssohn: primeiro em italiano, com a mezzo-soprano Monica Bacelli no recitativo e ária "Infelice!" e, em seguida, com o Coral Paulistano Mário de Andrade cantando em alemão o "Salmo 42".

Monica Bacelli tem ótimos graves, volume profuso e timbre emoldurado por um belo contorno metálico, mas faltou um pouco de clareza na dicção.

O Coral Paulistano, por outro lado, foi certeiro na emissão do alemão e do latim.

Desde o início de 2014 o grupo passou a ser dirigido por Martinho Lutero Galati de Oliveira, que tem buscado ampliar a gama estilística do repertório internacional, além de privilegiar obras corais criadas por compositores brasileiros.

No "Salmo 42" há muitas imagens de água, da "sede de Deus" às lágrimas que alimentam, passando por torrentes, vagas e ondas. O coro uniu homogeneidade à expressão.

Na segunda parte apresentou "Lux Aeterna", obra escrita em 1997 pelo norte-americano Morten Lauridsen, 71.

Trechos latinos do réquiem tradicional (missa para os mortos) integram-se a outros cantos medievais, como a sequência "Veni, Sancte Spiritus" (Vem, Santo Espírito).

É música plana, de inspiração arcaica e com variações sutis de texturas -da homofonia à polifonia-, o que inclui trechos a capela. Foi interpretada com muitos contrastes de intensidade por Rinaldo Alessandrini, coro e orquestra.

O "amém" final separa vozes e instrumentos para somente juntar tudo no momento derradeiro: é a luz divina em forma de som, o repouso eterno invisível cujos ecos ainda se pode escutar.

ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
CONCERTO COM O MAESTRO RINALDO ALESSANDRINI
AVALIAÇÃO bom


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