Folha de S. Paulo


Cinco destaques das artes para decidir se você torce por Brasil ou Chile

Neste sábado (28), Brasil e Chile se enfrentam para disputar uma vaga nas quartas de final da Copa do Mundo. Se está difícil prever quem vence o jogo, pelo menos dá para dar uns palpites num eventual duelo dos dois países nas áreas da cultura.

Confira abaixo possíveis confrontos e escolha quem você acha que sairia vencedor:

Cinema: "Cidade de Deus" x "Machuca"

Se o quesito for premiações, o Brasil fez mais gols mundo afora. "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles, levou mais de 50 prêmios e foi indicado a quatro prêmios Oscar. Também criou uma estética própria, que encontra ecos em "Quem Quer Ser um Milionário" (2008) e nos latino-americanos "Hermano - Uma Fábula sobre Futebol" (2010), de Marcel Rasquín, e "Sete Caixas" (2012), de Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori.

O também elogiado "Machuca" (2004), de Andrés Wood, teve repercussão um pouco mais modesta: dez prêmios em festivais. Mas despertou a atenção do mundo ao cinema chileno, que já gerou os aclamados "No" (2012), de Pablo Larraín, indicado ao Oscar, e "Gloria" (2013), de Sebastián Lelio.

Ainda bem que aqui a disputa é contra o Chile, que assim como o Brasil, nunca obteve um Oscar. Já a rival de ambos, Argentina, levou para casa dois prêmios da Academia de Hollywood, ambas na categoria de melhor filme estrangeiro: por "A História Oficial" (1985), de Luís Puenzo, e por "O Segredo dos seus Olhos" (2009), de Juan José Campanella.

Divulgação
Cenas de
Cenas de "Cidade de Deus" (esq.) e "Machuca"

Teatro: Nelson Rodrigues x Isabel Allende

Você pode não saber, mas a best-seller chilena Isabel Allende também já ensaiou seus passinhos como dramaturga. Nenhum de seus textos para teatro, porém, é tão famoso quanto seus romances, muitos dos quais viraram filmes (e outras peças).

Autor de 17 peças, o brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980) é o mais prestigiado de todos os dramaturgos nacionais: escreveu sobre a vida suburbana, sobre famílias desarranjadas e alfinetou o conservadorismo religioso do país.

Nelson também dá uma credencial a mais para o Brasil: grande entendedor de bola, escreveu crônicas sobre futebol que são famosas e é irmão do também jornalista esportivo Mário Filho (1908-1966), que dá nome a nada menos que o estádio do Maracanã.

Divulgação - Fernando Villar/Efe
Nelson Rodrigues e Isabel Allende
Nelson Rodrigues e Isabel Allende

Literatura: Carlos Drummond de Andrade x Pablo Neruda

Ao lado de Gabriela Mistral (1889-1957), Pablo Neruda (1904-1973) é um dos dois chilenos que já levaram um prêmio Nobel de literatura, dando ao seu país o apelido de "terra dos poetas".

Neruda enveredou pelo surrealismo, pelos poemas épicos e eróticos e, certa vez, calou o Pacaembu: em 1945, leu um poema seu para 100 mil pessoas que se encontravam no estádio num comício de homenagem ao líder comunista Luís Carlos Prestes (1898-1990).

No time brasileiro, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é um dos nomes mais fortes do modernismo brasileiro. Escreveu sobre amor mas também sobre política. Além disso, foi um apaixonado por futebol: produziu não só crônicas como poemas sobre o esporte.

Divulgação - AFP
Os poetas Carlos Drummond de Andrade e Pablo Neruda
Os poetas Carlos Drummond de Andrade e Pablo Neruda

Música: Chico Buarque x Violeta Parra

Que o cantor e compositor brasileiro é fã de futebol e bom de bola não é segredo para ninguém. Chico Buarque comemorou seus 70 anos neste ano e, possivelmente, tem acompanhado de perto os jogos do Mundial. Além de seus mais de 40 anos de carreira na música —explodiu com "A Banda" em 1966—, também faz gols na literatura, tendo lançado quatro romances. Três deles serviram de base para roteiros de filmes. Na música, entre os muitos temas que abordou, incluindo o futebol, está a política, com canções como "Meu Caro Amigo", "Vai Passar" e "Apesar de Você".

Do outro lado do campo, está a chilena Violeta Parra, cantora e compositora que é considerada fundadora da música popular de seu país. É autora de hinos "Volver a los 17" e "Gracias a la Vida", usados pela militância de esquerda durante a ditadura chilena e que ganharam interpretações por artistas brasileiros como Milton Nascimento e Elis Regina (além do próprio Chico). Nascida em 1917, morreu em 1967.

Daryan Dornelles/Divulgação - Fundacion Violeta Parra
Chico Buarque e a cantora chilena Violeta Parra
Chico Buarque e a cantora chilena Violeta Parra

Artes visuais: Cândido Portinari x Roberto Matta

Cândido Portinari (1903-1962) é um verdadeiro artilheiro do Brasil: um dos artistas mais famosos do país, pintou milhares de telas, especialmente de temática social, incluindo os gigantescos painéis "Guerra e Paz", presenteados à sede da ONU em Nova York.

Do lado adversário, o Chile contra-ataca com Roberto Matta, pintor que flertou com o surrealismo e também criou painéis gigantescos: sua obra "El Primer Gol del Pueblo Chileno", criada para comemorar o primeiro ano do governo do socialista Salvador Allende, foi encoberta por camadas de tinta a mando da ditadura militar de Pinochet (1973-1990).

Resta só torcer para que no campo os chilenos não façam nenhum primeiro gol.


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