Folha de S. Paulo


Nova versão de 'Django Livre' pode ir para a TV, diz Tarantino em Cannes

O diretor Quentin Tarantino está em Cannes para apresentar a cópia restaurada de "Por um Punhado de Dólares" (1964), clássico de Sergio Leone, e para comemorar os 20 anos de "Pulp Fiction", que ganhou a Palma de Ouro cinco meses antes de virar um fenômeno mundial. O cineasta só fez uma exigência: o seu longa deveria ser projetado, nesta sexta-feira (23), em película e não digitalmente.

"A projeção digital é a morte do cinema", atestou Tarantino em sua disputada entrevista para cerca de 100 jornalistas, em Cannes. "O fato de não exibirem mais em 35mm significa que a guerra acabou e o cinema está morto. O que resta agora é uma TV gigante para o público. Para que sair de casa para assistir a isso?"

Ironicamente, o cineasta revelou que pode lançar uma nova versão de "Django Livre" diretamente para a televisão. "Eu não mudaria meus filmes lançados, mas eu tenho 90 minutos de 'Django Livre' nunca vistos e minha ideia é fazer uma versão de quatro horas e lançar uma minissérie para TV a cabo, em quatro episódios de uma hora."

Apesar dos planos, Tarantino explicou que não gosta de trabalhar em versões especiais de seus filmes. "Minha 'versão do diretor' é a que sai em três mil salas. Por exemplo, eu não gosto da edição especial de 'Contatos Imediatos de Terceiro Grau', e fiquei possesso porque tiraram das locadoras de vídeo. Então, ele foi o primeiro filme que comprei quando lançaram o laser disc, porque era a versão original. Foi como reencontrar um velho amigo."

O diretor reconhece que o formato digital, no entanto, é uma saída para novos cineastas. "Um jovem pode comprar um celular e, se tiver tenacidade e arranjar bons atores, pode fazer um filme e percorrer os festivais. Na minha época, não havia isso. Filmar em película era como escalar uma montanha alta."

Com vários clássicos modernos nas costas, como "Cães de Aluguel", "Bastardos Inglórios" e "Kill Bill", Quentin Tarantino diz que vê seus longas sempre que pode, sem o menor constrangimento. "Quando ouço diretores falando que não conseguem ver os próprios filmes, eu sinto muita pena deles", alfinetou, gargalhando. "Como você se levanta de manhã cedo se faz tanta merda? Se eu fizesse um longa que não gostasse, eu pararia de filmar."

Mas a aposentadoria ainda não está a caminho. Tarantino voltou a confirmar os planos de retomar "The Hateful Eight", mas o projeto pode ganhar outras dimensões depois do diretor experimentar uma leitura ao vivo com o elenco, mês passado, em Los Angeles. "Me diverti tanto que pode ser que eu leve o roteiro para os palcos ou publique em forma de livro", contou. "Mas estou trabalhando no segundo tratamento e devo fazer um terceiro. Não estou com pressa."

Tanto que tirou um tempo para passar o fim de semana em Cannes, comemorando e sendo assediado pelos jornalistas. Nesta sexta-feira (23), ele exibe "Pulp Fiction" às margens do Mediterrâneo. Já no sábado, Tarantino fechará o Festival de Cannes apresentando a cópia restaurada de "Por um Punhado de Dólares", dirigido por um de seus heróis, Sergio Leone. "Não foi apenas o faroeste spaghetti que nasceu com 'Por um Punhado de Dólares'", explicou. "Todo o cinema de ação como conhecemos, com essa dinâmica atual, nasceu ali, com Leone."


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