Folha de S. Paulo


Disputa esquenta no Festival de Cannes com filmes belga e japonês

Se a primeira semana do 67º Festival de Cannes, iniciado em 14 de maio, decepcionou com poucos filmes capazes de ganhar a Palma de Ouro, o início da reta final mudou o cenário desolador.

O emocionante "Still the Water", da japonesa Naomi Kawase, e o drama belga "Deux Jours, Une Nuit", dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, foram os filmes mais aplaudidos até esta terça (20) na competição oficial.

Indicada quatro vezes para a principal mostra do evento e vencedora do Grand Prix —segundo prêmio mais importante do Festival— em 2003, Kawase aborda no longa o tema da luta do homem contra a natureza.

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Marion Cotillard interpreta uma mulher depressiva no filme 'Deux Jours, Une Nuit', dos irmãos Dardenne
Marion Cotillard interpreta uma mulher depressiva no filme 'Deux Jours, Une Nuit', dos irmãos Dardenne

A adolescente Kyoko (Jun Yoshinaga) sabe que está prestes a perder a mãe. É uma história sobre o luto e como aprendemos a lidar com perdas de maneiras diferentes —a garota é a única que parece sentir a iminente morte.

Ela entenderá o papel da natureza na vida com a idade, como o pai ou o tio, e tenta lutar contra o destino.

"Quando nascemos, sabemos que vamos morrer. Mas o mundo moderno se esqueceu de que morte é uma passagem", disse a cineasta em Cannes.

DARDENNE

Aplaudido em sua estreia, nesta terça, "Deux Jours, Une Nuit" nem precisaria da recepção quente. O currículo dos irmãos, vencedores da Palma de Ouro com "Rosetta" (1999) e "A Criança" (2005), já os transportaria para a lista de favoritos, que também tem o turco "Winter Sleep".

O filme não deve sair de mãos vazias de Cannes. Os belgas acompanham uma mulher depressiva (Marion Cotillard) por uma missão em um fim de semana: convencer seus colegas trabalhadores a não apoiar sua demissão, que lhes renderá um bônus de € 1.000.

Ela precisa de nove votos para manter o emprego, mas enfrenta não apenas as reações contrárias de alguns companheiros (uma quer o dinheiro para melhorar o jardim, outro precisa pagar a faculdade da filha), como a depressão clínica.

O drama, assim como todas as obras dos Dardenne, investiga sem julgar boa parte da sociedade belga e premia o esforço da classe média trabalhadora. "Acredito que a solidariedade ainda é possível hoje em dia", afirmou Luc Dardenne. "E é sobre isso que o filme trata."

No processo, os diretores conseguiram trabalhar pela primeira vez com uma estrela de fama mundial e escondê-la por baixo do papel intenso.

"Nós nos encontramos nas filmagens de 'Ferrugem e Osso' (2012), que produzimos, vimos Marion com o filho nos braços e não paramos de falar sobre ela", contou o cineasta, que ensaiou por um mês com a atriz antes de começar a filmar.

"Não fiquei surpresa com o nível de exigência ou a precisão deles, porque seus filmes refletem isso", disse Marion, forte candidata ao prêmio de melhor atriz em Cannes.


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