Folha de S. Paulo


Literatura brasileira foi excluída da Flip, diz editor da Record

Carlos Andreazza, editor-executivo da Record, protestou no Facebook contra a programação da Flip divulgada na manhã desta terça (dia 13).

Em texto postado na rede social, Andreazza reclamou que os autores brasileiros da editora foram ignorados pela festa literária de Paraty. Para ele, a Flip convidou "poucos, pouquíssimos —se com boa vontade— escritores de literatura brasileira".

"Você publica, entre romancistas, contistas e poetas, cerca de 25 autores literários brasileiros por ano —e então chega a Flip, apresenta sua programação e não convida sequer um deles", escreveu o editor-executivo.

A Flip deste ano terá 23 convidados brasileiros, entre eles Fernanda Torres, Gregorio Duvivier, Antonio Prata (os três colunistas da Folha e publicados pela Companhia das Letras), Eliane Brum (editora Leya) e Bernardo Kucinski (Cosac Naify).

Marlene Bergamo/Folhapress
A atriz e escritora Fernanda Torres, uma das atrações brasileiras da Flip 2014
A atriz e escritora Fernanda Torres, uma das atrações brasileiras da Flip 2014

A Record emplacou dois nomes na programação oficial da Flip, ambos autores de não ficção.

São eles o jornalista americano David Carr, colunista do "New York Times", autor de "A Noite da Arma", e Marcelo Gleiser, colunista da Folha e professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover (EUA), autor de "Criação Imperfeita".

"Responsável pela publicação —apenas em 2014, e somente até agosto, mês da Flip— de escritores como Cristovão Tezza, Lya Luft, Alberto Mussa e Evandro Affonso Ferreira, entre vários outros, todos mais que qualificados a participar da festa, todos absolutamente ignorados, não fico, não posso ficar satisfeito em ter só dois autores na programação", queixou-se.

Andreazza disse que por meses tentou, em vão, um diálogo com a curadoria da Flip para apresentar seus autores e trocar ideias. "Como editor-executivo da Record, editora que mais investe em autores nacionais neste país, sinto-me obrigado a tornar pública a minha perplexidade —e nos mesmos termos como a fiz chegar ao curador da Festa Literária Internacional de Paraty, o tão competente quanto inacessível Paulo Werneck", relatou.

Ele também apontou "uma concentração editorial bárbara" na programação, que teria, a seu ver, poucas editoras representadas por muitos autores. "Este —o desequilíbrio editorial, a concentração editorial— que é uma das marcas mais duradouras da Flip que hoje quer questionar o poder", contou.

Paulo Werneck, curador da Flip, disse à Folha que trocou vários e-mails com Andreazza nos últimos meses. "Nós fizemos uma reunião em novembro com a Record, ele estava lá, e depois tivemos um contato regular. Sempre me mostrei aberto."

"Existe uma frustração natural das editoras, todas gostariam de ter mais autores na programação", completa Werneck. "A programação da Flip é montada pelo curador. Todas as editoras deram ideias que não foram emplacadas."

Sobre a ausência dos autores citados por Andreazza (como Tezza e Mussa) na programação oficial, Werneck disse que tentou neste ano não repetir autores de Flips anteriores.

"Depois de tantas edições, estamos vivendo uma renovação da geração literária da Flip", analisa.

Werneck também contesta a acusação de "concentração editorial". "Acho que a programação foi bem democrática. Temos 41 autores representados por 16 editoras. Algumas delas nunca tinham participado da Flip antes, como a Sextante."

Companhia das Letras (seis autores) e Cosac Naify (quatro) são as editoras com mais escritores na Flip.


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