Folha de S. Paulo


Masp muda seu estatuto para aplacar grave crise e eleger nova diretoria

Numa reunião que durou cerca de quatro horas, a diretoria do Masp aprovou na tarde desta terça (29), por unanimidade e com a participação de três quartos de seus conselheiros, mudanças no estatuto do museu que permitirão a ampliação do número de membros de seu conselho administrativo, de 30 para 80 vagas, e a posse de uma nova diretoria.

Rompendo um ciclo de 20 anos em que o arquiteto Júlio Neves e seus aliados, como a atual presidente Beatriz Pimenta Camargo, vêm se revezando no comando do maior museu da América Latina, o Masp deverá ser dirigido pelo empresário e consultor financeiro Heitor Martins.

Martins, que foi presidente da Fundação Bienal de São Paulo e responsável pelo resgate financeiro daquela instituição, poderá assumir o Masp à frente de um novo corpo diretivo em cerca de 60 dias, quando uma assembleia deverá oficializar o conselho ampliado, que, por sua vez, elegerá outra diretoria.

Essa é a maior mudança estatutária na história do museu, que enfrenta hoje uma grave crise. Tem uma dívida estimada em cerca de R$ 10 milhões, está impedido de captar recursos por meios federais de incentivo e, segundo a Folha apurou, atrasou pagamentos a funcionários.

"Essa crise não é um apanágio do Masp, várias instituições também enfrentam, mas você passa um tempo sem resolver, e as coisas vão acumulando, vai virando uma bola de neve. É uma nova fase para o museu, sem dúvida", disse Pimenta Camargo, atual presidente do Masp, à Folha. "As questões que enfrentamos agora são as mesmas de muitos anos. As novas estratégias para lidar com essas questões é que vamos ver. Também estou curiosa para ver como vão fazer."

Entre outras mudanças, foi aprovado na tarde hoje um teto para mandatos consecutivos que conselheiros e diretores poderão exercer no museu, além da exigência de que os conselheiros passem a fazer contribuições financeiras para o Masp.

Outra mudança significativa é a abertura do conselho a membros do poder público, algo que o Masp sempre resistiu. A partir de agora, terão assento permanente no conselho da instituição os ocupantes dos cargos de secretário municipal e estadual da Cultura de São Paulo, além do presidente do Instituto Brasileiro de Museus, órgão ligado ao Ministério da Cultura.

Ou seja, passam a integrar o conselho, Juca Ferreira, secretário municipal da Cultura, Marcelo Araújo, o secretário estadual, e Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, atual presidente do Ibram.

Essas alterações na alta cúpula do museu são exigência do Itaú, que ajudará no resgate das dívidas do Masp e atuará como parceiro na gestão da instituição. Além do banco, outras empresas, como o Bradesco e a Gerdau, estudam entrar no resgate do museu.

"Estamos trazendo mais gente para cá, porque a cidade cresce, e os problemas crescem", disse o arquiteto Júlio Neves, ex-presidente e atual conselheiro do Masp, à Folha. "Aqui, o desafio é um leão por dia. O maior desafio é todo dia."


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