Folha de S. Paulo


Debate sobre humor na TV condena hipocrisia do politicamente correto

"A sociedade brasileira é hipócrita, se recusa a confrontar a si mesma. A questão é como se trata o diferente, a minoria. O politicamente correto é o coroamento dessa hipocrisia, de que não existe diferença. Nenhum ser humano é igual."

As palavras acima, ditas por Marcelo Madureira, que integrou o extinto programa "Casseta & Planeta" (Globo), deram o tom do debate sobre séries de humor na TV brasileira, realizado durante o 2º Programa Globosat de Roteiristas, no Rio.

Além das dificuldades de criar e produzir atrações cômicas, o politicamente correto e os limites do humor mobilizaram a roda de discussão, que contou ainda com Claudio Paiva ("Tapas & Beijos", da Globo), Rosana Ferrão ("Cilada.com", Multishow) e Mauro Wilson ("A Grande Família"), sob moderação de Marcelo Tas ("CQC", Band).

Para Mauro Wilson, a comédia está "no limite de bater".

Divulgação
Da esq. para a dir., Rosana Ferrão, Mauro Wilson, Claudio Paiva, Marcelo Madureira e Marcelo Tas
Da esq. para a dir., Rosana Ferrão, Mauro Wilson, Claudio Paiva, Marcelo Madureira e Marcelo Tas

"Mas é complicado. 'Aline' [atração da Globo, baseada nas tirinhas de Adão Iturrusgarai] era uma história de amor de uma jovem com dois caras. Quando fiz a série, recebi milhares de reclamações na Globo. Pai dizendo que tirava a filha da sala quando o programa entrava no ar."

"Escrevi também 'A Mulher Invísivel', que era o contrário: um homem e duas mulheres. Foi um sucesso, ganhou até prêmio", segue Wilson, sobre o Emmy Internacional de comédia, em 2012, revelando um certo conservadorismo da plateia.

"Anunciante é extremamente conservador, mas quando surge algo que causa estranhamento, como o Porta dos Fundos, que traz o público, todo mundo abraça, vai correndo e quer patrocinar", disse Madureira.

O ex-casseta afirmou faltar "humor político no Brasil". "O 'CQC' tem essa clivagem, mas queria fazer um telejornal político diário."

"Humor do bem não existe", ponderou Claudio Paiva, que estreou na Globo com "TV Pirata" (1988-1992). Segundo ele, não só a comédia, mas a dramaturgia brasileira vive uma crise.

"Copia-se muito, repete-se bastante. Autores que já gostamos produzem xerox esmaecidas de algo que eles mesmo já fizeram."

O jornalista ALBERTO PEREIRA JR. viajou a convite da Globosat.


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