Folha de S. Paulo


Morre o editor independente André Schiffrin, aos 78 anos

Morreu neste domingo (1°), em Paris, aos 78 anos, o francês André Schiffrin, que publicou as primeiras obras de Art Spiegelman e Michel Foucault, entre outros, e se tornou referência como editor independente com sua editora New Press. Ele vinha se tratando de um câncer no pâncreas.

Schiffrin ficou mais conhecido em 1990, quando deixou a Pantheon Books com críticas ao foco cada vez maior da editora na publicidade e no lucro. Na ocasião, o CEO da Random House, à qual pertence a Pantheon, argumentara que Schiffrin estava "publicando vários livros que ninguém quer ler" e ordenara o corte de lançamentos e funcionários.

Em resposta, Schiffrin pediu demissão, sendo seguido por outros editores e levando autores como Arthur Miller e Nadine Gordimer a assinar um abaixo-assinado em sua defesa. Outros nomes, como Kurt Vonnegut e E.L. Doctorow, participaram de um protesto que reuniu cerca de 200 escritores em frente ao prédio da editora.

Schiffrin sempre disse que a esperança para a boa literatura está nas pequenas e médias editoras. "O problema é que eles escolhem um livro por seu mérito, e não por sua potencial contribuição para superar expectativas", disse em entrevista na ocasião.

Em 1992, fundou a New Press, casa sem fins lucrativos respaldada por fundações privadas e doações de pessoas físicas, pela qual publicou obras como o ganhador do prêmio Pulitzer "Embracing Defeat", de John Dower, e "The New Jim Crow", de Michelle Alexander.

ENSAIOS

O editor era filho de Jacques Schiffrin, criador da consagrada coleção francesa de clássicos Bibliothèque de la Pléiade e, nos Estados Unidos, fundador da Pantheon Books.

Criada em 1942, a editora foi comprada em 1961 pela Random House, que então contratou André Schiffrin como diretor. Ele passou 30 anos na direção da casa antes de fazer as críticas ao impacto negativo das sucessivas trocas de comando acionário da empresa no catálogo de obras publicadas.

Em 2000, publicou nos Estados Unidos seu primeiro livro de ensaios sobre o mercado editorial, "O Negócio dos Livros" (Casa da Palavra, 2006), no qual abordava a era de compras de pequenas editoras por grupos editorais.

Escreveu também "O Controle da Palavra" (2005), inédito no Brasil, e "O Dinheiro e as Palavras" (2010), publicado por aqui em 2011 pela Bei Editora, sempre tratando do controle corporativo como uma ameaça à boa literatura e à liberdade de expressão.

Em "O Dinheiro e as Palavras", Schiffrin dava sinais de ser um editor à moda antiga, reservando apenas 15 páginas de um total de 152 à questão dos e-books --e concluindo que ainda seria cedo para avaliar seu impacto no mercado editorial.

DIGITAL
Em entrevista à Folha, em 2011, alegou que o impacto do digital era restrito aos Estados Unidos e a best-sellers, e que, na Europa, os e-books não deveriam se expandir como lá.

Desde então, a venda de e-books no Reino Unido já passou os 20% do total de vendas do mercado local, como nos EUA --o crescimento nesses dois mercados agora tem mostrado sinais de estagnação. Enquanto isso, em países como França e Alemanha, a venda de e-books vem crescendo como crescia no mercado americano nos últimos anos.

"Os e-books causam duas situações que a longo prazo serão desastrosas: destroem as livrarias, porque as pessoas compram pela internet, e são vendidos pelo mesmo preço que os paperbacks [reedições em formato econômico], que são a única maneira que editoras têm para manter a venda de títulos antigos", disse o editor.

Ele informou ainda, na ocasião, que preparava para 2012 um título chamado "Free", no qual abordaria mais especificamente o mercado digital e a questão dos direitos autorais. O livro não chegou a ser publicado.

O editor, que se dividia entre Paris e os EUA, deixou mulher e duas filhas.


Endereço da página: