Folha de S. Paulo


Autora inglesa de peça com Antonio Fagundes mergulhou no universo dos surdos

Alguns autores teatrais podem escrever a partir de suas próprias experiências. Outros precisam recorrer a vivências estranhas ou, como repórteres, fazer entrevistas. A inglesa Nina Raine, autora da peça "Tribes", hoje encenada por Antonio Fagundes e seu filho Bruno Fagundes no Tuca, pertence ao segundo grupo de artistas.

Antonio Fagundes e filho retomam dupla nos palcos com a peça 'Tribos'

Há cerca de três anos, ela passou três meses acordando às seis da manhã para poder experimentar a mesma rotina de quem trabalhava em hospitais de Londres. Depois de vivenciar um cotidiano que não era o seu, escreveu "Tiger Country", texto focado na vida, no pensamento, no universo dos médicos. A peça estreou em 2011.

Lucas Lima/Folhapress
A dramaturga e diretora inglesa Nina Raine
A dramaturga e diretora inglesa Nina Raine

Raine faz parte ainda de uma novíssima geração de dramaturgos ingleses. Seu primeiro texto, "Rabbit", foi dirigido por ela própria e estreou em uma pequena sala sobre um pub da capital inglesa, para logo viajar para a Austrália e os Estados Unidos.

"Tribes" é um caso de sucesso mais recente. Bruno Fagundes assistiu à premiada montagem da Broadway no ano passado e voltou para São Paulo com a ideia fixa de erguer sua própria versão, assumindo o papel do protagonista, um jovem surdo.

A peça também foi criada a partir de uma imersão, conta Raine. Sua pesquisa consolidou-se principalmente numa série de entrevistas com surdos e pessoas que entendiam a língua dos gestos utilizada por eles. Em seu processo de criação, ela diz que usa fragmentos daquilo que os entrevistados lhe falaram. "Isso se mistura dentro de mim, mas eu ponho minha experiência pessoal na escrita também. É um híbrido", conta.

Sair a campo também é uma forma de expor seu processo de criação a pequenos acidentes de trajetória. "Acidentes são muito importantes para um dramaturgo", afirma. "Você pode planejar e planejar uma peça ou uma cena, mas, até que comece a escrever, você não tem ideia do que te vai acontecer", argumenta.

Um exemplo frequente em sua vida, diz Raine, são os drinques com amigos. "Alguém pode fazer uma observação, e então decido usar aquilo. Nesse caso, aquilo que alguém disse pode levar toda a cena para uma nova direção."

Para Raine, é trabalho do dramaturgo forjar sua própria sorte e tirar proveito dos eventos que estão a seu alcance, além de "ter um bom olho e um bom ouvido".


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