Folha de S. Paulo


Na Bienal, autores dizem que Lima Barreto e Graciliano não erraram ao maldizer futebol

Dois escritores e intelectuais que estão entre os grandes pensadores do Brasil publicaram artigos, no início do século 20, de forma crítica e desabonadora contra o futebol.

Tanto Lima Barreto quanto Graciliano Ramos acreditavam que o esporte "não pegaria" no Brasil, jamais seria popular e que os chutes na bola que chamavam a atenção nas grandes cidades eram apenas uma febre passageira ou estrangeirismo sem maior sentido. Estavam errados, certo? Errado.

Na opinião de dois especialistas que participaram na noite desta segunda-feira (2) do Placar Literário, espaço de debate sobre futebol na Bienal do Livro do Rio, errados estão os analistas apressados que, fora de contexto, deduziram que Lima Barreto e Graciliano Ramos haviam se equivocado.

Joel Rufino dos Santos, autor do ensaio "Sociedade e Problema Racial na Obra de Lima Barreto", argumentou que as preocupações do autor sobre o futebol eram pauta dentro do engajamento social de sua obra: ele via no futebol mais um elemento de discriminação racial.

Santos diz que o país em que Lima Barreto previra o fracasso do futebol deixaria de existir anos depois, quando o escritor já havia morrido.

"O certo é que Lima Barreto perdeu e o futebol ganhou. Mas, a partir da 1ª Guerra (1914-1918), o país já mudara, por conta de uma verdadeira revolução social. Antes de 1930, o que se chama hoje de Brasil simplesmente não existia", afirmou Santos, explicando que as previsões do autor sobre o futebol devem ser lidas dentro do contexto social e temporal em que foram escritas.

GRACILIANO

Caso semelhante se passou com Graciliano Ramos, pelo menos no entendimento de Dênis de Moraes, biógrafo do escritor. No caso de Graciliano, o problema não seria o fato de que houve mudanças sociais importantes. Seria necessário considerar que ele escrevera contra o futebol em um jornal em Palmeira dos Índios, no interior de Alagoas, sob outra realidade.

"Graciliano foi descrito pela história oficial do século 20 sempre como um homem rude. Foi um escritor privado de sua contradição."

Para Moraes, está claro que no tal artigo célebre em que Graciliano diz que o futebol seria "logo esquecido", ele se refere à realidade sertaneja, para o público sertanejo que certamente leria o periódico "O Índio", mantido pela diocese da cidade alagoana.

"Ambos se insurgiam contra o futebol por questões sociais, mas também porque o viam como algo estrangeiro", concluiu Moraes.

O Placar Literário, uma das novidades da Bienal do Livro do Rio, traz debates e discussões envolvendo autores que abordam o futebol em sua literatura. A Bienal ocorre até o dia 8 de setembro, no Riocentro, na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense.


Endereço da página:

Links no texto: