Folha de S. Paulo


Netflix faz concurso para seduzir produtores de longas brasileiros

A Netflix anunciou na noite desta quinta-feira (29/8) os dez longas nacionais convidados a participar do concurso "Joia do Cinema Brasileiro" (confira a lista abaixo.)

O vencedor será definido pelo voto de internautas e terá como prêmio sua distribuição disponibilizada para toda a base de assinantes da Netflix --cerca de 37 milhões, sendo 8 milhões fora dos Estados Unidos.

"A intenção é estar próximo do mercado brasileiro e promover a cultura brasileira lá fora", diz Vinícius Losacco, VP de Marketing da Netflix para a América Latina.

O concurso funciona também como uma tentativa de persuadir produtores de filmes brasileiros a distribuir seus títulos pela Netflix, o que pode incluir mudanças contratuais em produções futuras. A empresa tem enfrentado dificuldade de obter conteúdo no Brasil, por barreiras impostas nos contratos vigentes.

Editoria de Arte/Folhapress

"No mercado brasileiro, realmente vários produtores já têm relação com outros canais de distribuição, e a gente vem mantendo contato [com eles]", afirma Losacco.

A Folha apurou que a Netflix considera a Globo e os canais Telecine, que costumam exigir exclusividade na distribuição de vídeo sob demanda, como seus maiores empecilhos para incrementar o portfólio de produtos brasileiros.

Na definição dos dez concorrentes ao prêmio "Joia do Cinema Brasileiro", a Netflix também esbarrou em vetos contratuais que impediram a participação de alguns filmes convidados. O impedimento serviu como "um aprendizado", na opinião da produtora Zita Carvalhosa (Kinoforum), que realizou a seleção dos filmes, em parceria com o Festival do Rio.

"A gente teve poucos casos que tinham restrição [contratual]. Esses poucos que nos cederam [seus filmes] e depois tiveram de voltar atrás não tinham a exata noção do direito que eles tinham cedido [em seus contratos de coprodução e distribuição]. Todo mundo que teve que sair porque não podia ficou meio assim", diz Carvalhosa.

CULTURA BRASILEIRA

Felipe Genes, coordenador do RioMarket, o braço de negócios do Festival do Rio, disse que teve a preocupação de selecionar "filmes que poderiam fazer algum sucesso fora do Brasil, levando um pouco da cultura brasileira para o mercado internacional".

Estão na disputa títulos que acumulam prêmios em festivais e apreço da crítica, como "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005), de Marcelo Gomes, e "Apenas o Fim" (2008), de Matheus Souza; e documentários como "Dalua Downhill" (2012), de Fernanda Krumel, Rodrigo Pesavento e Tiago de Castro, sobre o skatista Dalua, e "O Dia que Durou 21 Anos", (2012), de Camilo Tavares, sobre a participação dos EUA no golpe militar brasileiro de 1964.

Carvalhosa diz que mirou "filmes preocupados com uma nova maneira de se expor", porque, segundo afirma, "a gente está num momento em que a exposição convencional de filmes que não são ligados às grandes redes de televisão está bastante difícil".

Entre os dez filmes convidados a participar, nenhum tem produção assinada pela Globo Filmes, selo predominante na safra em que o concurso se concentrou (2005-2010).

"Desconhecemos a iniciativa. Não há nenhuma orientação da Globo Filmes que impeça suas coproduções de participar de qualquer festival brasileiro", afirmou a empresa, via assessoria de imprensa, em resposta ao pedido da reportagem para comentar o assunto.

SÉRIE NACIONAL

O concurso da Netflix deverá ser anual e replicado em outros mercados onde a empresa opera. "O Brasil foi escolhido para ser o primeiro, pelo tamanho do país, a quantidade e a qualidade dos produtos", diz Losacco. O vencedor da disputa será anunciado durante o Festival do Rio (26/9 a 10/10).

Segundo o executivo de marketing, o projeto de produção de uma série brasileira dirigida pelo cineasta José Padilha ("Tropa de Elite") para a Netflix deve tomar forma assim que o diretor concluir a realização de "Robocop".


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