Folha de S. Paulo


Crítica: Longa de Soderbergh vai de discussão sobre remédios a drama individual

Uma das tentações de Steven Soderbergh é o tema de atualidade. E um deles é o dos novos e mirabolantes medicamentos produzidos pela indústria farmacêutica, com seus por vezes não menos mirabolantes efeitos colaterais.

Eis o princípio de "Terapia de Risco", novo filme do diretor. Ali, Jude Law é um médico que topa receitar remédios novos e razoavelmente arriscados para sua paciente Emily (Rooney Mara).

Steven Soderbergh faz thriller sobre depressão

Emily é a jovem que projeta uma nova vida ao lado do marido, que deixou a prisão. A readaptação dele à sociedade não é fácil. As dificuldades levam Emily a uma depressão mais que profunda e, daí, ao bem prestigioso consultório de Jonathan Banks, interpretado por Jude Law.

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Rooney Mara e Channing Tatum em cena do filme
Rooney Mara e Channing Tatum em cena do filme "Terapia de Risco", de Steven Soderbergh

Nem tudo sai como o dr. Banks previra. As crises de ausência (ou sonambulismo) de sua paciente são inquietantes. Ainda mais depois que Emily mata o marido durante uma dessas ausências.

Como é de presumir, o mundo cai na cabeça do médico. É a melhor parte do filme, porque Soderbergh controla bem a progressiva moagem de Banks: perda de prestígio, problemas éticos crescentes, destruição da família, ameaça de prisão etc. Nessa altura já esquecemos a indústria farmacêutica, seus remédios e efeitos colaterais.

Estamos no território do suspense: o que aconteceu, efetivamente, com Emily? E como pode o médico safar-se dos problemas indigestos que o acometem?

É quando se tornará decisiva a presença da antiga terapeuta da jovem, a dra. Siebert (Catherine Zeta-Jones).

O todo é bem Soderbergh (o Soderbergh "sério" ou "pessoal"): após colocar na berlinda a indústria farmacêutica, recua o bastante para que o eixo da questão seja a competência ou a probidade de certos profissionais.

O resultado é à altura do oportunismo da proposta: um filme digestivo. Daquilo que anuncia discutir de início, a pertinência de certo conhecimento psiquiátrico e seu eventual elo com a indústria farmacêutica, resta nada.

É como se o filme, mais que colocar um tema em questão, trabalhasse para eliminá-lo. Efeito colateral: se a moralidade desse conhecimento se mostra, ao fim, quase inquestionável, o mesmo não ocorre com a moralidade do filme.

TERAPIA DE RISCO
DIREÇÃO Steven Soderbergh
PRODUÇÃO EUA, 2013
ONDE Anália Franco UCI, Iguatemi Cinemark e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ruim


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