Folha de S. Paulo


Eduardo Paes cria Conselho Municipal da Moda para impulsionar setor no Rio

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou nesta sexta-feira (19) a criação do Conselho Municipal da Moda. O grupo reunirá estilistas e empresários, além de secretarias e órgãos oficiais, para criar iniciativas de desenvolvimento do setor na capital carioca.

Presidido pelo estilista Carlos Tufvesson, o conselho tem ainda entre seus membros designers como Lenny Niemeyer, Oskar Metsavaht, da Osklen; Rony Meisler, da Reserva; e Marcelo Bastos, da Farm.

Um dos focos do grupo será a capacitação de mão-de-obra, e uma das ideias nesse sentido envolve um plano de educação técnica nas favelas pacificadas da cidade. "Se há gente querendo trabalhar, por que não abrir cursos como o de costureira? Precisamos convencer as pessoas a participar e ajudá-las no encaminhamento profissional, mostrar que vale a pena investir tempo nisso", diz Tufvesson.

Para o designer, a questão da mão-de-obra está na base de outros problemas muito maiores. "O objetivo é unir forças para não entrarmos numa crise profunda, para não termos, por exemplo, que demitir todo mundo e terceirizar nossos serviços em outro país, como fazem os Estados Unidos".

A palavra crise está pairando sobre os negócios de moda e muitos estilistas, assumidamente ou não, passam por momentos difíceis e estão atolados em dívidas. Outros, porém, relativizam a situação.

"Não acho que há crise na moda. Talvez, haja falta de incentivo à criação e, muita falta de visão por parte dos criadores. Fechamos o primeiro semestre com 25% de crescimento em relação ao ano passado. É sempre assim no Brasil, ou é criativo e não sabe gerir, ou é empresário e não é criativo, isso é um problema", diz Meisler, da grife Reserva.

Em entrevista à Folha, Eduardo Paes disse que o grupo poderá receber recursos da Prefeitura para os projetos e que também fará a ponte entre o conselho e o governo federal. "A ministra [da Cultura, Marta Suplicy] não é tão fashion quanto o prefeito do Rio, mas podemos conversar", brincou Paes.

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Folha - Por que investir na criação de um conselho de moda?
Eduardo Paes - Moda gera muito emprego, especialmente para mulheres. É a vocação do Rio estimular as indústrias criativas, somos uma cidade que respira isso.

Qual será o papel do conselho e como a Prefeitura vai supervisionar esse trabalho?
Há uma série de barreiras para quem faz moda no Rio e produz, coisas que dificultam o crescimento. O papel do conselho é identificar esses obstáculos e propor soluções. Por isso, nele, há uma parte da sociedade civil e outra da Prefeitura. As ideias têm de passar pelo IPP (Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos) e pela análise das secretarias, senão a coisa desanda. A secretaria Municipal da Fazenda, por exemplo, analisa as cargas tributárias [apontadas por estudo do IPP como um dos maiores entraves do setor de moda no Rio]. A palavra final será minha, mas a estrutura das iniciativas será pensada pelo conselho.

O ministério da Cultura está ampliando suas ações relacionadas à moda. O senhor pretende trabalhar em conjunto com a ministra Marta Suplicy?
A ministra não é tão fashion quanto o prefeito do Rio. Não é tão elegante (risos). Mas certamente haverá um contato com o Ministério da Cultura. Politicamente, estou disposto a conversar com Marta se for o caso, ela é uma carioca nata, né?

O dinheiro para os projetos virá da Prefeitura?
A Prefeitura do Rio pode sim, bancar projetos, assim como o Governo do Estado. Ainda não temos definições sobre verba, mas já ajudamos o Fashion Business e o Fashion Rio, por exemplo. Queremos sobretudo incentivar a economia criativa.

Há entre, as ideias iniciais do Conselho, uma que prevê cursos nas favelas pacificadas. O que o senhor pensa disso?
As favelas pacificadas seriam ótimos lugares para promover capacitação de pessoas, sim. O que deve ser entendido é o seguinte: muitos projetos vêm de Brasília, são nacionais, mas as necessidades do Rio não são as mesmas do Acre, por exemplo. Cada cidade tem um perfil diferente, a ideia é olhar para o setor de moda nesse contexto. Dentro desse cenário, é absolutamente viável para nós um projeto com as favelas.


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