Folha de S. Paulo


Crianças do Bolshoi no Brasil têm rotina pesada, mas esforço vale a pena

Quem vê a bailarina, toda delicada sobre a sapatilha, mal imagina o esforço que ela faz para estar ali.

"Acordo todos os dias às 5h30 para fazer o coque do cabelo, depois tenho aula de balé, vou para a escola e, à noite, ainda aproveito para treinar coreografias ou estudar para as provas", conta Hellen Teixeira, aluna do balé Bolshoi no Brasil. Tudo isso aos dez anos de idade.

"Isso sem contar as preocupações. No recreio, por exemplo, evito correr para não ter risco de torcer o pé."

. Alunos do Bolshoi do Brasil falam sobre rotina e o que querem do futuro

O Bolshoi, companhia russa de balé que é uma das mais importantes do mundo, mantém há 15 anos uma escola no Brasil, em Joinville, Santa Catarina –é a única unidade fora da Rússia. Atualmente, 254 alunos fazem aulas gratuitas de balé clássico e de dança contemporânea no local.

O esforço da bailarina já começa no processo de seleção. Para estudar lá, meninos e meninas de 9 a 11 anos passam por uma peneira com centenas de concorrentes.

Às vezes, os candidatos nunca dançaram na vida: não é preciso ter conhecimento do assunto, mas, sim, bons movimentos, flexibilidade e postura. Neste ano, a seleção acontece entre 23 e 25 de outubro, em Joinville.

Após a aprovação, o balé deixa de ser brincadeira. "O começo é difícil, as aulas são rígidas. É normal acordar em 90% dos dias com dores no corpo", diz Maikon Golini, 23, que estudou na escola e hoje é professor. O curso completo do Bolshoi dura oito anos.

EXÉRCITO DO BALÉ

A disciplina dos alunos é parecida com a de um atleta de alto rendimento, como alguém que sonha em se tornar jogador de futebol ou competir em Olimpíada. Mas a dedicação não fica restrita às aulas. Ela continua na hora de evitar machucados, sempre dormir cedo, cuidar da alimentação...

"Não posso comer salgadinhos, bolachas e outras besteiras", conta Sabine Pletz, 12. Assim que entram na escola, as crianças passam a ser acompanhadas por nutricionistas e têm de adotar uma alimentação restrita.

"A bailarina, em muitos movimentos, é levantada por seu parceiro. Se estiver acima do peso, pode acabar machucando o menino", justifica o russo Pavel Kazarian, diretor do Bolshoi no país.

Atualmente, 66% dos 227 ex-alunos da escola estão empregados em companhias do Brasil e do mundo –número que ajuda a justificar o método severo.

"Não tenho tempo para brincar. Mas não trocaria minha rotina por nada", diz Lorenzo Cantalice, 11. Nem Hellen. "É puxado, às vezes fico cansada. Mas é o preço de uma profissional." E assim nasce uma bailarina.

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ESPETÁCULOS
Os bailarinos do Bolshoi russo farão apresentações no Rio, neste sábado (20) e domingo (21), no Theatro Municipal; em São Paulo, acontecem entre os dias 24 e 28 de junho, no Teatro Bradesco. Os ingressos estão esgotados. No elenco, há três brasileiros –além de seis alunas da escola no Brasil, todas entre 16 e 20 anos.


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