28/09/2009
Um homem esmagado
NOVA YORK - Nunca havia estado por tanto tempo e t�o perto de Barack Obama quanto na semana passada, na entrevista de encerramento da reuni�o do G20 com o norte-americano em Pittsburgh (Pensilv�nia).
Obama � um craque. Mas � tamb�m um homem sob vis�vel e inimagin�vel press�o.
Suas mand�bulas e dentes se espremem a ponto de notarmos as contra��es internas em sua pele escura do lado de fora. � vis�vel tamb�m o esfor�o de concentra��o, com o olhar no vazio, que antecede cada uma de suas palavras.
Obama lida com problemas que nenhum de n�s pode experimentar a dimens�o.
Enfrenta a pior crise econ�mica em seu pa�s desde os anos 1930 e um desemprego que se aproxima rapidamente de 10%. Por isso, seus �ndices iniciais de aprova��o ca�ram mais rapidamente (para cerca de 50%) do que os de qualquer outro presidente na hist�ria recente.
Obama tamb�m luta internamente para fazer aprovar a universaliza��o da cobertura de sa�de a todos os que vivem nos EUA, �nico pa�s desenvolvido que n�o proporciona esse benef�cio b�sico a todos.
No front externo, o presidente v� centenas de americanos sendo mortos sob seu comando em duas guerras. Nenhuma provocada por ele, mas por George W. Bush, de resto tamb�m respons�vel pelos graves problemas econ�micos em seu pa�s.
Al�m disso, dificuldades geopol�tcas cada vez maiores (tamb�m instigadas pelo unilateralismo de Bush) se descortinam rapidamente, do Iraque e Afeganist�o ao Paquist�o. A mais recente foi a descoberta de que o Ir� constr�i secretamente, escondida dentro de uma montanha, uma usina nuclear com fins supostamente militares.
Obama teve o cuidado de fazer a revela��o sobre a usina ao lado dos l�deres de Fran�a e Reino Unido. N�o quis repetir o erro de Bush ao anunciar sozinho que o Iraque tinha armas de destrui��o em massa (que jamais foram encontradas).
O presidente dos EUA vem dando v�rias mostras de ser totalmente diferente de Bush e mais aberto ao mundo.
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Fotos de cartazes e pessoas se manifestando contra o presidente Obama reunidos pela revista "New York" chamam o presidente de nazista, sat�nico, mentiroso, mu�ulmano e socialista |
Apoiou a consolida��o do G20 como f�rum global de discuss�es econ�micas em detrimento das grandes pot�ncias do G7 e a reforma do FMI; enterrou a ideia de instalar em solo europeu o programa antim�sseis de Bush (numa concess�o aos russos); e, mesmo em rela��o a Cuba e Venezuela, vem adotando uma postura de mais concilia��o e menos confronto.
A grande pena � que talvez os EUA ainda n�o estejam preparados para Obama.
O presidente vem sendo alvo de uma campanha sistem�tica para desfigurar sua imagem e pol�ticas. Com a ajuda da m�dia conservadora norte-americana e do conservadorismo inerente a seu pa�s, essas distor��es v�m ganhando corpo, voz e musculatura nessa nossa era de sensacionalismo midi�tico.
A repercuss�o n�o � nada desprez�vel.
No caldo da aguda deteriora��o econ�mica nos EUA, onde os sinais de recupera��o s�o ainda muito incompletos, as campanhas negativas, bem feitas e coordenadas, j� pintaram Obama como nazista, socialista e at� sat�nico.
Obama est� h� menos de um ano no poder. H� tempo ainda pela frente, assim como haver� elei��es parlamentares em 2010. O maior rev�s seria o Partido Democrata de Obama perder a forte lideran�a que tem hoje na C�mara e algumas cadeiras no Senado.
Se a economia n�o decolar logo, Obama corre um s�rio risco de passar de grande inova��o a uma falsa caricatura.