23/04/2007
-
10h36
Suspeita sobre juízes começou no mensalão
FREDERICO VASCONCELOSda
Folha de S.PauloO primeiro sinal de que havia corrupção e venda de sentenças no Judiciário Federal em São Paulo surgiu em 2005, nas investigações do mensalão --o esquema de financiamento a parlamentares do PT e da base aliada denunciado pelo deputado Roberto Jefferson PTB.
Um dos acusados beneficiado com acordo de delação premiada --cujo nome é mantido em segredo-- confessou, na PGR (Procuradoria Geral da República), em Brasília, que fizera a intermediação de pagamentos ao juiz federal Manoel Álvares, em 2004.
No período em que substituiu Roberto Haddad no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, Álvares trabalhou com a mesma equipe do desembargador afastado. Em agosto de 2006, deixou o cargo (Haddad somente viria a reassumir o cargo em janeiro deste ano). Álvares sofreu um infarto, foi hospitalizado e tirou férias.
Aquele depoimento feito em Brasília foi enviado pela PGR ao TRF-3. Foi aberto um inquérito sigiloso, inicialmente relatado pelo desembargador Carlos Muta e conduzido, depois, pelo então vice-presidente da corte, desembargador Baptista Pereira.
Em meados de agosto de 2006, Baptista Pereira deferiu pedidos de diligências do MPF (Ministério Público Federal). Foi autorizada a interceptação de telefonemas e a oitiva de pessoas. Nesses depoimentos, surgiram os relatos de transações envolvendo outros juízes de primeiro grau.
Segunda pernaNum segundo momento, a Procuradoria da República, em São Paulo, recebeu correspondência anônima, que anexava nota fiscal de valor elevado emitido por uma empresa fantasma. As investigações indicaram que o documento se destinava a dar cobertura a pagamento de uma suposta propina à desembargadora Alda Maria Basto Caminha Ansaldi, do TRF-3, relativa a uma decisão também na esfera tributária.
A nota fiscal, emitida a título de prestação de serviço, era da própria tomadora do serviço. O MPF requereu, então, à Receita Federal a instauração de procedimento para apurar a simulação. Foram identificadas outras notas irregulares.
Como a desembargadora tem direito a foro especial, o inquérito subiu para a Procuradoria Geral da República, em Brasília, passando a tramitar no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
As interceptações telefônicas no inquérito instaurado pelo TRF-3 revelaram que o escritório de Luiz Eduardo Pardo havia feito a intermediação tanto das decisões que envolviam a desembargadora Alda Basto quanto as proferidas pelo juiz Manoel Álvares, reveladas em Brasília com a delação premiada. O MPF vislumbrou, então, uma organização criminosa atuando na Justiça Federal.
Mesma organizaçãoO ministro Felix Fischer aceitou a manifestação do MPF, que sustentou haver conexão entre os fatos apurados envolvendo o juiz Manoel Álvares e a desembargadora Alda Basto. Ou seja, o inquérito passou a apurar a suspeita de que se tratava de uma mesma organização criminosa.
O retorno de Haddad às atividades como juiz foi marcado por discrição. O fato não foi noticiado nem pelo STF nem pelo tribunal federal em São Paulo. Consultado, o TRF-3 não informou o número da portaria que formalizou sua recondução.
O envolvimento dele na Operação Têmis despertará a atenção sobre o julgamento de habeas corpus, no Supremo, que permitiu o reingresso do desembargador. O MPF tenta reverter a decisão. Haddad havia sido afastado em 2003, por decisão unânime do STJ, acusado de falsificar documentos para ocultar a sonegação de impostos.
Leia mais
Ministro do STJ tem 15 dias para dar explicações ao Supremo
Anísio possui um triplex com quarto blindado no Rio
Bicheiros trocam jogo "original" por bingo e caça-níqueis
Chinaglia diz que máfia pode envolver qualquer poder, "até o Executivo"
Grampo liga políticos do Rio a policial preso com a máfia do jogo
PF diz que vazamento prejudicou operação e faz críticas ao STJ
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a Operação Hurricane