Folha de S. Paulo


Presidente do Estudiantes, Verón volta aos gramados para ser cérebro do time

No início era um golpe de marketing, mas Juan Sebastian Verón amadureceu de vez a ideia de voltar a jogar futebol em 2016. Aos 41 anos, o meia argentino, que havia se aposentado em 2014, sabe não ter condição de correr como os garotos. Mas ele sempre teve a certeza de que, com a bola nos pés, pensava melhor do que a maioria.

Ele será um dos principais nomes do Estudiantes na Libertadores -o time está no Grupo 1, para o qual o Botafogo pode se classificar.

Além de jogador, Verón é presidente do clube. Para ajudar a financiar um novo estádio, havia dito que se 65% dos camarotes fossem vendidos (o que aconteceu) ele retornaria aos gramados.

O Estudiantes não divulga quanto ganhou, mas os preços dos camarotes variam entre US$ 60 mil (R$ 189 mil) e US$ 180 mil (R$ 566 mil) pelo direito de usar o local por dez anos. Verón assinou contrato de um ano e meio.

"É situação pouco comum, mas como atleta, não vou mandar em ninguém. Eu sempre fui jogador de futebol, não há nada de novo nisso", afirmou o volante argentino, em entrevista à Folha.

"Hoje em dia, cada vez mais gente com mais de 40 anos está em campo profissionalmente. Vou ser apenas mais um. Vejo muita correria no futebol sul-americano atual. Mas pouca gente pensa o jogo. Posso oferecer isso."

A primeira partida de Verón depois de dois anos e oito meses parado foi na Florida Cup, quando sua equipe derrotou o Bahia por 1 a 0. O presidente começou como titular e foi substituído no intervalo. A melhor chance que criou foi em escanteio. Cruzou a bola e Desábato cabeceou por cima do travessão.

"Foi melhor do que eu pensava. Tenho de melhorar e jogos como esses ajudam", disse para o diário argentino "La Nación" após a vitória.

Por causa da decisão de calçar as chuteiras novamente, não teve férias. Passou 60 dias em processo de condicionamento físico especial.

"Continuo com o mesmo corpo de antes. Não engordei. Treino muito porque não posso me dar ao luxo de não me aplicar. Preciso chegar ao nível dos outros. Quando era mais novo, podia relaxar. Hoje, não", confessa.

EM CASA

A história de Verón, que disputou três Copas do Mundo pela Argentina (1998, 2002 e 2010), está ligada ao Estudiantes. Seu apelido é "La Brujita" (a bruxinha) porque é filho de Juan Ramón Verón, "La Bruja" (a bruxa), um dos nomes mais importantes da história do clube, autor do gol do título mundial de 1968, contra o Manchester United.

Ele começou a carreira em La Plata, para onde voltou em 2006, aos 31 anos, com a promessa de ser campeão da Libertadores, assim como seu pai. Cumpriu em 2009, com a vitória sobre o Cruzeiro, no Mineirão. Ele foi eleito o melhor jogador do torneio.

Em 2014, Verón ganhou eleição para a presidência do clube com 75% dos votos.

"Não tenho aquela prática de ficar afastado dos jogadores. Como presidente nunca fui assim e agora, menos ainda. Já tinha contato com eles todos os dias e isso vai continuar. Reconheço que é uma situação excepcional, mas não vejo como nenhum absurdo. Sempre serei jogador do futebol, mesmo quando decidir parar de vez."

O meia reage às críticas e, neste sentido, continua o mesmo que acumulou adulação, admiradores, críticos e adversários no mundo do futebol. O técnico José Pekerman tomou a polêmica decisão de não o levar para a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. O capitão da seleção argentina era Juan Pablo Sorín, desafeto de Verón.

No ano passado, teve entrevero com ninguém menos que Diego Maradona em amistoso beneficente. O ex-camisa 10 o havia convocado para o Mundial de 2010.

Um assunto que aborrece Verón é a eliminação argentina na fase de grupos na Copa de 2002, quando era capitão. Ele foi um dos responsabilizados pelo resultado.

"É claro que não vou ser em 2017 o mesmo jogador de 2006. Seria bobagem pensar nisso. Mas há muita gente que torce para eu falhar, que jogue mal sempre para ir à imprensa e falar mal de mim. Essas pessoas não terão essa chance", promete.

O salário de Verón é simbólico. Vai receber o mínimo acertado pelo sindicato dos atletas com os clubes da primeira divisão argentina: US$ 12,7 mil (cerca de R$ 40 mil).

No ano passado, o técnico Nelson Vivas pedia alguém que pudesse liderar o elenco em campo. Não foi preciso procurar muito.

"Eu sei muito bem qual é o meu lugar. O técnico decide sempre. Posso ajudar de várias formas. Sei que serei uma liderança para o time."


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