Folha de S. Paulo


Após cinco meses, Federer prepara o retorno e se diz 'rejuvenescido'

A família Federer já fez muitas viagens coletivas, mas no atual período de pausa, o patriarca vem ouvindo mais e mais perguntas.

"As crianças já estavam questionando quando vamos viajar de novo", disse Roger Federer, de Dubai, em longa entrevista. "Porque elas ficam felizes quando estamos viajando. Ficaram perguntando quando voltaríamos à Austrália ou a Nova York. E eu respondendo que isso ainda demoraria algum tempo."

Mas a próxima viagem de negócios da família se aproxima rapidamente. Federer deve voltar à ativa no mês que vem, em Perth (Austrália), na Hopman Cup, um torneio por equipes, antes de retomar o tênis a sério no Aberto da Austrália, em Melbourne.

Federer não atua desde 8 de julho, quando foi batido por Milos Raonic nas semifinais de Wimbledon. No set final, ele levou um tombo completamente fora de seus padrões no piso de grama, e era fácil tomar a imagem como metáfora para seu declínio.

Federer caiu sobre o joelho esquerdo, ainda frágil após cirurgia sofrida em fevereiro, a primeira de sua carreira, que o havia mantido fora das quadras por dois meses. Ainda que tenha se levantado em Wimbledon e concluído a partida, não conseguiu concluir a temporada. Ficou fora até da Olimpíada do Rio, que era uma de suas grandes metas de final de carreira.

Enquanto seus permanentes rivais Andy Murray e Novak Djokovic disputavam a liderança do ranking e seu compatriota Stan Wawrinka vencia o Aberto dos EUA, Federer teve um gosto de aposentadoria, com a sua mais longa parada desde que se profissionalizou, em 1998.

Agora, ele tentará mais uma das etapas essenciais na carreira dos grandes tenistas: um retorno. E o fará começando no 16º posto do ranking, o mais baixo desde 2001.

Federer, 35, tem pouca coisa a provar. Ele já venceu 17 títulos de Grand Slam, um recorde, e 71 outros títulos. Ele insistiu que jamais considerou a hipótese de parar.

"Mirka está determinada a me apoiar, está totalmente feliz", ele disse, sobre a mulher.

"As crianças adoram a ideia da minha volta. Eu continuo com vontade de vencer, e me sinto rejuvenescido."

A velha guarda do tênis masculino continuará em quadra, com Federer e Rafael Nadal, que aos 30 anos está voltando de novas lesões e conta com a ajuda de um novo treinador, Carlos Moyá.

Federer disse que continuou acompanhando os resultados no seu celular, enquanto Murray e Djokovic duelavam pela liderança do ranking mundial, até novembro.

"Fiquei surpreso porque, quando um cara começa uma temporada da maneira que Novak começou, realiza seu sonho de vencer o Aberto da França e seu quarto título de Grand Slam consecutivo, é claro que não há como alguém pensar que o número um do ranking ficará com outra pessoa", disse Federer.

"Sejamos honestos, Novak não jogou mal no segundo semestre. Venceu em Toronto. Chegou às finais de muitos outros torneios. Seria de imaginar que isso era o bastante, mas liderar o ranking do ano requeria algo de extraordinário, e foi o que Murray fez. Tiro o chapéu para ele."

Federer afirmou que sua decisão de encerrar a temporada depois de Wimbledon foi tomada pelo desejo de extrair o máximo do tempo que resta em sua carreira.

Após se retirar de Roland Garros, o que concluiu em 65 sua sequência de participações consecutivas em torneios de Grand Slam, Federer voltou para a temporada das quadras de grama, mesmo sem seu joelho estar 100%.

"Acho que o joelho e o resto do meu corpo precisavam de uma parada, e ao tirar seis meses de folga tive o tempo de que o joelho e o corpo precisavam para a cura. Agora posso contemplar o passado e refletir que, se as coisas não forem bem, eu pelo menos fiz tudo que podia. Não terei do que me arrepender".

Ele disse que adotou uma abordagem especialmente conservadora, agora.

"Especialmente nos primeiros três meses, eu estava me exercitando talvez uma hora por dia", ele afirmou.

Quando aumentou a intensidade de seu treinamento, com o preparador físico Pierre Paganini, que o acompanha há muito tempo, Federer disse que ainda assim evitava treinar em dias consecutivos. Ele começou a jogar tênis de novo no início de outubro, mas disse que só começou a treinar em quadra inteira no final de novembro.

Ele está treinando em Dubai, frequentemente contra Lucas Pouille, tenista francês em ascensão, e na quinta-feira Federer planejava transmitir ao vivo no Periscope um de seus treinos, para atualizar seus torcedores.

O teste real de como ele está jogando terá de esperar pela Austrália, onde seus seis meses fora do circuito do tênis serão oficialmente encerrados. "Eu tive um gostinho de aposentadoria", disse.

"De repente, eu podia ser organizado, pensar que estaríamos por quatro semanas consecutivas em casa no mesmo lugar. O que posso fazer no jantar com Mirka? Que amigos devemos rever?"

Federer se divertiu com o tempo passado em família e apreciou a previsibilidade de estar no mesmo lugar por mais de uma semana. Felizmente, ele afirmou, seu joelho se recuperou e ele pôde aproveitar a situação.

"Foi empolgante e bom para nós ter esse tempo", ele disse. "E foi uma boa sensação, sabe? Senti-me bem, mas parar de vez pode certamente esperar. Parar é algo que posso esperar para fazer."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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