Folha de S. Paulo


Perto de título inédito da F-1, Rosberg nasceu e cresceu no automobilismo

Quando conquistou seu primeiro pódio, no GP da Austrália de 2008, Nico Rosberg comemorou com um caloroso abraço em Lewis Hamilton, o vencedor do GP, na antessala do pódio em Melbourne. Já era a quinta vitória do inglês, que se sagraria campeão naquela temporada.

Neste domingo (27), Nico Rosberg, que larga da segunda posição, pode conquistar seu primeiro título justamente sobre Hamilton, pole, seu companheiro de equipe e, agora, rival.

A amizade começou nos tempos do kart, no qual ambos chegaram a dividir os boxes. Mas a relação de Rosberg com o automobilismo é muito anterior –vem de berço.

Nico era uma criança quando seu pai, o campeão Keke Rosberg, se aposentou da F-1, mas permaneceu no circo como empresário de pilotos finlandeses, como JJ Lehto e Mika Hakkinen. Desde a infância, Nico era presença constante no paddock.

Nascido na Alemanha, em Wiesbaden, país de origem de sua mãe, o piloto residiu em Mônaco a sua vida inteira. Uma parte do circuito de rua do principado era o caminho que fazia todos os dias para ir à escola.

"Eu e Nelsinho Piquet fomos colegas no jardim de infância", lembrou em entrevista à revista Serafina em 2013, em referência a outro filho de campeão mundial.
Rosberg cresceu falando fluentemente alemão, inglês, francês, espanhol e italiano, mas nem sequer arranha o idioma nativo do pai.

A carreira deslanchou com o título da F-BMW de 2002. A marca bávara era a fornecedora de motores da Williams, e o título rendeu ao piloto sua primeira experiência na F-1 —na época, aos 17, foi o mais jovem a guiar um carro da categoria.

Até então, o plano de Rosberg era entrar na F-1 como engenheiro aerodinâmico, não como piloto. Com o sucesso nas pistas, se convenceu a permanecer dentro dos cockpits: "Foi estranho largar os estudos porque todos os meus amigos estavam indo para a faculdade. Mas meus resultados eram muito bons nas corridas."

O ingresso definitivo na F-1 ocorreu em 2006, um ano após se sagrar o primeiro campeão da GP2. Foi justamente com a equipe de Frank Williams, a mesma pela qual seu pai foi campeão, que Rosberg largou no GP do Bahrein, onde logo conquistou a melhor volta.

Ao que tudo indica, ele também faria sucesso se tivesse tentado a sorte como engenheiro. A Williams costuma submeter seus pilotos a uma prova de conhecimentos sobre a área, e Rosberg foi o autor da maior pontuação da história do teste.

Se demonstrava talento, Nico pecou pela falta de torcida. Escolheu representar a Alemanha, país onde nunca viveu e que nunca esteve em falta de pilotos nas últimas décadas, representado pelos multicampeões Michael Schumacher e Sebastian Vettel.

Quando Nico Rosberg chegou à Mercedes, em 2010, todas as câmeras estavam apontadas para a equipe —mas para o carro ao lado. Schumacher havia reconsiderado sua aposentadoria e voltava para a F-1 após três temporadas de ausência.

Não demorou muito tempo para atrair as atenções para si. Desde os primeiros testes de inverno, andou mais rápido que o companheiro. Mais do que isso, superou o heptacampeão nos três anos em que correram na mesma equipe.

Foi pela Mercedes que, finalmente, conseguiu sua primeira vitória, no GP da China de 2012, após 111 GPs, num momento em que era cobrado pela pecha de eterna promessa. Apenas quatro pilotos demoraram mais corridas para alcançar o lugar mais alto do pódio.

Com a chegada de Hamilton ao time, em 2014, a relação entre os dois amigos de infância azedou. Ambos disputaram todos os Mundiais desde então, dada a superioridade da Mercedes após a adoção dos motores turbo na F-1. Nas duas primeiras temporadas, os erros de Rosberg chamaram a atenção.

Em 2014, Rosberg forçou uma ultrapassagem no GP da Bélgica que deixou seu carro e o de Hamilton danificados. A Mercedes culpou o alemão e pediu mais comedimento nas disputas. No ano seguinte, em Austin, Rosberg liderava, mas uma saída de pista deixou caminho livre para o companheiro conquistar o tricampeonato com três etapas de antecedência.

O abraço fraterno de 2008 foi substituído, naquele pódio, por um gesto bem mais ríspido: o inglês jogou o boné reservado ao segundo colocado no colo de Rosberg, que o atirou de volta em resposta.
Desde então, Rosberg parece ter colocado a cabeça no lugar. Venceu sete GPs seguidos —três em 2015 e os quatro primeiros de 2016.

Abriu vantagem sobre Hamilton e, mesmo perdendo algumas disputas diretas, administra sua liderança na tabela desde uma quebra de motor do rival na Malásia. Pela lógica, só um problema mecânico pode lhe tirar o título.

As diferenças entre os colegas vão muito além da pista. Enquanto Hamilton cultiva um estilo de vida de pop star, Rosberg optou por ser mais reservado. Casou-se com sua namorada dos tempos de adolescência, Vivian Sibold, e é pai da Alaïa, 1.

A família costuma passar as férias em Ibiza, mas nem durante a folga o piloto está distante do automobilismo: a casa de Nico na ilha fica ao lado da de seu mentor na Mercedes, o tricampeão Niki Lauda.


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