Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Bauza abriu mão de suas convicções, e time não suportou

Com um time inferior tecnicamente e com dois desfalques importantíssimos, o São Paulo não fazia uma má partida contra o Atlético Nacional (COL), nesta quarta-feira (6), no Morumbi, até a expulsão infantil de Maicon, aos 28min da etapa final. Foi naquele momento, porém, que o técnico do São Paulo, Edgardo Bauza, deixou de lado suas convicções e viu seu time sucumbir.

Nos primeiros meses de trabalho no São Paulo, o estilo pragmático do técnico argentino dava margem para contestações.

Com um futebol duro de assistir, o time capengava no Campeonato Paulista, se classificou em segundo do seu grupo e caiu nas quartas de final ao tomar uma goleada por 4 a 1 do Audax.

Na Libertadores, após conseguir a classificação para a fase de grupos ao vencer o modesto César Vallejo (PER) por apenas 2 a 1 no placar agregado, sofreu uma vexatória derrota por 1 a 0 para o The Strongest (BOL) no Pacaembu –a primeira dos bolivianos jogando como visitante após 32 anos na competição continental –e colocou a classificação para as oitavas de final em risco logo no primeiro jogo.

Apesar do futebol pouco vistoso, o treinador avisava: a ordem tática do time era o fator mais importante na construção da equipe que ele queria, e a evolução, na sua concepção, era visível.

Em todas as entrevistas que Bauza dava (e ainda dá) após as partidas, ele fazia questão de tocar no assunto. Depois do segundo jogo contra o César Vallejo, em São Paulo, no dia 11 de fevereiro, ele afirmou:

"Os atletas já têm a ideia de como jogar. Os jogadores sabem o que têm que fazer quando entram. A ordem é inegociável e também já está encaminhada".

Meses mais tarde, já classificado para as semifinais da Libertadores após superar o Atlético-MG, a equipe já havia conquistado, além da ordem tática, um futebol mais envolvente e convincente. E Bauza ainda insistia no tema.

"Estamos entre os quatro melhores da América, e são pouquíssimos que imaginavam isso. Foi uma partida muito difícil. O Atlético-MG nos obrigou a marcar com todo mundo. Mas a ordem em campo foi fundamental".

Porém, na derrota desta quarta, o mandamento fundamental da cartilha do treinador argentino parece ter sido deixado de lado após a expulsão do zagueiro de R$ 22 milhões.

O placar marcava 0 a 0, um resultado que permitia ao São Paulo jogar pelo empate em território colombiano, onde o excelente time do Atlético Nacional é ainda mais forte. No entanto, Bauza não fez o óbvio.

Em vez de colocar o zagueiro Diego Lugano, ídolo da torcida, no lugar de um dos dois atacantes que tinha em campo, Calleri ou Alan Kardec, para formar duas linhas defensivas de quatro jogadores e segurar o resultado contra o ofensivo time colombiano, o treinador puxou o lateral esquerdo Mena para cobrir a lacuna e usou a substituição que restava para tirar Wesley, que naquele momento da partida já atuava como volante.

Em seu lugar, pôs outro volante, Hudson, que é mais defensivo, mas exerceu a mesma função em campo.

Bauza manteve quatro jogadores com características ofensivas (Michel Bastos, Daniel, Alan Kardec e Calleri), apenas um zagueiro de origem (Rodrigo Caio), e o time transformou-se exatamente no que Bauza rechaçou durante toda sua passagem pelo São Paulo: uma equipe desordenada.

Não à toa, os dois gols do atacante Borja saíram em jogadas trabalhadas, com muito toque de bola e o último passe penetrando exatamente no local onde havia um buraco deixado pela dupla Maicon-Bauza.

Com a derrota, o São Paulo precisa vencer na Colômbia, onde a força da torcida joga muito a favor do Atlético Nacional. Nesta Libertadores, foram cinco partidas no estádio Atanasio Girardot, em Medellín, com quatro vitórias e um empate, este contra o Huracán (ARG), na última rodada da fase de grupos.


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