Folha de S. Paulo


Michel Temer vira alvo de protestos em estádios de futebol pelo Brasil

Florianópolis. Avaí e Ceará, Campeonato Brasileiro, último sábado (28). O time catarinense vence o rival por 4 a 2. Na arquibancada, surge a faixa: "Fora, Temer".

Belo Horizonte. Atlético Mineiro e São Paulo, Libertadores, dia 18. A faixa: "Lutar, lutar lutar. Temer jamais".

Belém. Paysandu e Gama, final da Copa Verde, 3/5. A faixa: "Vaza, Temer golpista".

Seja pela grande concentração de pessoas, seja pela transmissão dos jogos na televisão, grupos contrários ao governo Michel Temer (PMDB) elegeram estádios de futebol para protestar contra o presidente interino.

"Futebol e política não estão dissociados", diz o estudante Lucas Inocêncio, 23, que organizou um protesto do tipo no jogo Flamengo x Fortaleza, na Copa do Brasil, na capital cearense, no dia 18.

Opinião parecida tem o advogado José Maria Vieira, 41, um dos organizadores do ato em Belém. "A faixa é uma questão midiática, de protesto, pura desobediência. É uma questão de desafio à autoridade e ao poder", conta o torcedor do Paysandu.

Ele afirma que o grupo do qual faz parte, Ocupar a República, entrou no estádio com a faixa em uma mochila e passou sem problemas pela revista. Ficou na torcida adversária, para onde as câmeras do estádio Mangueirão geralmente apontam.

Estenderam a faixa quando um grupo que via o jogo pela TV avisou que filmavam a arquibancada. Sucesso: torcedores no local que não faziam parte da ação ajudaram e se empolgaram, e não houve protestos de pessoas que discordavam da mensagem.

O mesmo "modus operandi" foi relatado pelos organizadores de atos semelhantes.

"Tem muito jovem de periferia nos estádios, por isso a gente ganha o apoio das torcidas", conta a assistente social Laila Costa, 27, do Levante Popular da Juventude, que levou uma faixa ao primeiro jogo da final da Copa do Nordeste, entre Santa Cruz e Campinense, no Recife, em que chamava a Rede Globo de apoiadora do "golpe".

Na partida entre Fortaleza e Flamengo, havia também uma faixa contra a emissora: "Globo golpista".

Faixas similares foram erguidas na final do Campeonato Gaúcho e em jogo entre Vasco e Flamengo em março, no estádio Mané Garrincha.

DEMOCRACIA CORINTIANA

Os organizadores citam, como referência, a Democracia Corintiana, movimento surgido no time paulista nos anos 1980, e as faixas da Gaviões da Fiel contra a CBF e a chamada "máfia da merenda", esquema de desvio de recursos SP no qual o presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), é suspeito de envolvimento.

A torcida corintiana tem Capez como desafeto desde sua atuação, ainda como promotor, contra as organizadas paulistas.

Protestos em estádios foram vistos também contra o governo Dilma desde a Copa das Confederações de 2013.

A Polícia Militar tem recolhido as faixas assim que elas são abertas nos estádios.

Em linhas gerais, a Constituição Federal de 1988 diz que "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato".

O Estatuto do Torcedor, lei federal, proíbe, porém, no artigo 13-A, "portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas" e "utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros fins que não o da manifestação festiva".

O Regulamento Geral das Competições de 2016, da CBF, por sua vez, diz que o uso de faixas e cartazes, além de "manifestações em geral", "somente poderão ser realizadas com autorização expressa da CBF", desde que as torcidas façam o pedido dois úteis antes das partidas.

A Fifa também proíbe atos políticos em competições organizadas pela entidade, como a Copa do Mundo e a Copa das Confederações.

Procurada, a Rede Globo não se manifestou sobre os atos contra a emissora. Em abril, o locutor Galvão Bueno disse, durante transmissão, que "protestar é um direito de todo cidadão".


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