Folha de S. Paulo


Rival do Santos tem PM e frentista com quase 100 kg que joga no ataque

Manoel Façanha
Tonho Cabañas comemora gol marcado pelo Galvez
Tonho Cabañas (esq.) comemora gol marcado pelo Galvez em jogo do Campeonato Acreano

Fama de goleador, dificuldade com a balança, que é retratada nos seus 95 kg distribuídos em 1,78 m. As características são parecidas com o atacante Walter, do Atlético-PR, mas é de Antonio Silva, 31, ou melhor Tonho Cabañas, artilheiro do Campeonato Acreano.

O jogador, que também trabalha como frentista, é um dos destaques do Galvez, time criado por policiais militares em 2011 e rival do Santos na segunda fase da Copa do Brasil. O primeiro jogo entre as duas equipes será realizado nesta quarta-feira (11), às 19h30 (horário de Brasília), na Arena da Floresta, em Rio Branco, no Acre.

O clube ainda tem em seu elenco dois policiais militares (soldado R.Monteiro e o cabo Dieneton) e um agente de inspeção (Ciel), que trabalha em um frigorífico no estado.

O Cabañas acreano ganhou o apelido em razão de sua semelhança física com o atacante paraguaio, algoz do Flamengo e do próprio Santos na Libertadores-2008 pelo América-MEX.

"Ganhei esse apelido em 2012, quando estava sem clube e disputei um torneio de futsal aqui no Acre. Realmente estou acima do peso, mas já emagreci sete quilos desde o início da temporada. Se eu fechar o olho já engordo um pouquinho", contou o jogador, que confessa que sua alimentação não é mais correta para um atleta profissional.

Mesmo fora do peso, o camisa nove é o goleador do Estadual. Em 12 jogos, marcou 11 gols e levou o seu time ao terceiro lugar da competição. O desempenho já garantiu ao atacante um acordo verbal com outro clube do Acre, o Atlético, que disputará a Série D do Campeonato Brasileiro.

O dia a dia de Tonho Cabañas não se resume apenas ao futebol. Com salário de R$ 1.400, o atacante trabalha como frentista para completar sua renda —recebe R$ 1.200. Ele acorda às 5 horas e fica até as 12h no posto de combustível. Os treinos no Galvez acontecem no período da tarde.

"O trabalho como frentista não atrapalha. Aviso a minha patroa com antecedência sobre os dias de jogos e ela me libera. Só tenho que pagar para um outro frentista para ficar no meu lugar", contou o jogador, que está na função há dez anos.

"É puxado, mas não podemos depender apenas do futebol. Temos apenas uma competição por ano aqui no Estado e ainda com duração de quatro meses. Por isso, precisamos ter uma outra profissão".

É exatamente na partida contra o Santos que Cabañas se apega para mudar de vida e viver apenas do futebol. "O jogo terá muita visibilidade e vejo como a partida mais importante da minha carreira. Tenho sonhos na vida. Quero fazer um contrato longo, jogar uma competição diferente", completou.

Manoel Façanha
Tonho Cabañas durante jogo do Galvez pelo Campeonato Acreano
Tonho Cabañas (dir.) durante jogo do Galvez pelo Campeonato Acreano

GALVEZ

Fundado em nove de novembro de 2011, o Galvez foi criado para aproximar a Polícia Militar da sociedade. O nome do clube é em homenagem ao espanhol Luiz Rodríguez Galvéz de Arias, que proclamou a República do Acre no final do século XIX.

A diretoria da equipe é composta apenas por policiais militares. O presidente é o coronel Júlio Cesar dos Santos, comandante-geral da PM do Estado. Edemir Franco, diretor de futebol, é major da Polícia Militar e comandante do 5º Batalhão.

O Galvez foi formado com a intenção de utilizar apenas policiais militares, mas após uma campanha ruim no primeiro turno da segunda divisão do Campeonato Acreano de 2011, o time passou a contratar jogadores.

Atualmente, a folha salarial é de apenas R$ 45 mil. O clube não possui uma sede própria e nem centro de treinamento. Os troféus são guardados no Quartel da Polícia Militar na sala do comandante.

No duelo contra o Santos, a expectativa é que aproximadamente cinco mil torcedores compareçam no estádio Arena da Floresta. A equipe espera uma arrecadação de cerca de R$ 300 mil.

"É o jogo da nossa vida por conta da projeção, da arrecadação. Nossa expectativa é ter uma boa renda para a aquisição de um centro de treinamento", disse o major Edemir Franco.


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