Folha de S. Paulo


Del Nero diz ser bom administrador e volta à CBF para se defender no poder

Afastado desde dezembro do cargo, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, mudou de estratégia. Ao reassumir na última quinta (7) o cargo, o dirigente decidiu se defender no poder.

Na primeira entrevista exclusiva, Del Nero afirma que sua gestão no comando da CBF é boa e que vai permanecer trabalhando na sua defesa.

"Não aceito acusações sem provas e muito menos ilações sobre fatos não ocorridos. Antes de provar minha inocência precisam provar minha culpabilidade com fatos concretos e não 'achismos', como levianamente ocorrem. Mas diante dessa inversão de provas, ainda estou coligindo mais documentos que me distanciam dos fatos", disse à Folha o dirigente.

Em dezembro, ele foi acusado pelo FBI de ser um dos beneficiários de um esquema de recebimento de propina na venda de direitos de torneios no país e no exterior.

José Maria Marin, seu antecessor na CBF, cumpre prisão domiciliar nos EUA pela mesma acusação.

Del Nero também é investigado pelo Comitê de Ética da Fifa e pela CPI do Futebol, no Senado.

"Ainda estou trabalhando com o recolhimento e apresentação de provas aos setores competentes", disse o dirigente, que teve uma vitória no mês passado na Fifa.

Em comunicado para a Justiça dos EUA, a entidade pediu para receber parte do dinheiro recuperado pela autoridades norte-americanas no escândalo envolvendo seus dirigentes. A Fifa queria que Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Del Nero devolvessem US$ 5,3 milhões (quase R$ 20 milhões). Após o presidente da CBF recorrer, a Fifa recuou da cobrança.

VOLTA NATURAL

O presidente da CBF disse que seu retorno ao cargo é algo "natural quando você pede licença".

Neste período de quatro meses ausente da CBF, ele foi substituído pelo deputado federal Marcus Vicente (PP-ES) no primeiro mês. Depois, o presidente da Federação Paraense de Futebol, coronel Nunes, foi escolhido para ocupar a presidência. A CBF tem cinco vices.

Apesar das investigações, Del Nero defende suas gestões como cartola.

"Minha administração no futebol, desde 12 anos na FPF [Federação Paulista de Futebol] e agora na CBF me levam a considerar que minha equipe e eu somos bons administradores: a cada ano fiscal os resultados financeiros superam os anteriores, mesmo com enormes e positivos investimentos de fomento ao jogo de futebol e o fortalecimento e modernização das federações e clubes", disse o presidente da CBF.

"Ao contrário de outras organizações que sempre, por má administração estão a dever e com dificuldades financeiras para cumprir suas obrigações, a CBF está com seus balanços auditados por empresa respeitável no mercado e ainda assim trabalha com transparência na distribuição dos recursos", acrescentou.

Em 2015, a CBF declarou ter obtido um lucro de R$ 72 milhões, 42% acima dos R$ 51 milhões registrados no ano anterior. É o terceiro maior resultado positivo da entidade. O faturamento também foi recorde -R$ 584 milhões.

Mesmo assim, o balanço financeiro ainda não foi publicado no site da entidade. A aprovação do balanço foi contestada na Justiça por Delfim Peixoto, vice da própria entidade. Ele chegou a obter uma liminar na Justiça para suspender a reunião, que foi cassada pela CBF três dias depois.

Delfim alegou que seus advogados foram impedidos de ter acesso ao balanço financeiro três dias antes da reunião marcada para analisar as contas.

FIFA ENFRAQUECIDA

Del Nero pretendia ficar fora do poder até julho, mas acelerou o retorno após avaliar que o presidente da Fifa, Gianni Infantino, teria se enfraquecido politicamente.

O cartola brasileiro decidiu voltar ao poder oficialmente na semana passada após ver o novo presidente da Fifa envolvido no caso de suspeitas de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.

No dia 5 de abril, o dirigente europeu foi um dos citados no "Panamá Papers", que mostra como o escritório Mossack Fonseca ajudava clientes na abertura de empresas offshore pelo mundo. O objetivo muitas vezes era sonegar impostos ou lavar dinheiro.

Infantino aparece assinando acordos de direitos televisivos da época que trabalhava na Uefa, entre 2003 e 2006.

No dia seguinte, a Polícia Federal da Suíça realizou buscas na sede da Uefa (que controla o futebol europeu), em Nyon, para colher documentos dos contratos de direitos televisivos da entidade com a empresa Cross Trading.

Na sequência, o Ministério Público da Suíça informou que há "suspeita de gestão criminosa" em negociações de venda de direitos de televisão de competições organizadas pela entidade europeia.


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